segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A borboleta na janela


E então o novo aparece. E faz ver por entre as flores e folhas que cercavam o jardim.
Naquele instante, podia sentir o vento na pele, tocando cada poro. Estava tocando o Universo com a ponta dos dedos. Ouvindo até mesmo, o som do bater de assas da borboleta. Que por hora, aparecia na janela. Cada vez que via a borboleta, sabia que algo estava para mudar. A borboleta agia como uma coruja anunciado a morte de alguém no portão. Mas ao contrário desta, que trazia consigo o bilhete de lágrimas no rosto, a borboleta, trazia a dúvida: não tinha como saber se aconteceriam coisas boas ou ruins, só se sabia que aconteceriam. Isso fazia com que o sono demorasse mais para chegar, e fazia com que cultivasse com mais intensidade o sorriso que carregava no rosto.
A dúvida sempre esteve presente. E a vida sempre estava ali, pulsando, querendo ser vivida. E, no entanto, não era. Precisava que uma pequena borboleta aparece na janela, para que então, nesse espaço, a vida acontecer. Para que então prestasse atenção em cada gota d’ água que bebia ao amanhecer, ou no suor que escorria pelo rosto ás três da tarde. Ficava eu [e ainda fico], imaginando o quão poderoso é o bater de assas da borboleta, capaz de fazer as coisas se moverem diante dos meus olhos, capaz de fazer qualquer um que olhasse diretamente nos seus pequeninos olhos, mudar a vida de direção, ou andar na contramão, ou até mesmo, permanecer calado no mesmo lugar, mas prestando atenção nas ondas ao seu redor. Como pode tão precioso ser passar despercebido por entre tantas flores e fumaças que nos cercam? [...]
Contudo, estava ali a borboleta, mais uma vez, olhando fixamente para mim. Controlando as batidas do meu coração que soavam como um bumbo aos meus ouvidos aguçados, percebendo cada movimento ao meu redor, cada movimento longe dos meus olhos. Ela olhava para mim, e eu continuava a olhar para ela. Como se o tempo parasse, e ela tentasse mais uma vez me dizer o que tenho de fazer, o que tenho de corrigir, o que tenho de criar, quantas estrelas desenhar? Nesse momento, tantas eram as perguntas que me vinham à cabeça, que se tornava difícil, saber direcionar um singelo pensamento que fosse. 

Deu-se o tempo, ela voou. Deixou no rastro do vento o sinal de que voltaria em 6 ou 7 dias, mas que queria ver a diferença na minha face. Ela se foi, e eu fiquei com o peso da mudança nas minhas costas. E com a imagem que raramente passava entre meu cérebro, da minha expressão envergonhada, olhando a borboleta que chorava pensando que eu o faria. E o farei. Afinal, não quero ver a borboleta chorando, ela volta em alguns dias. E nesse tempo, estarei flutuando, mudando e desenhando a ordem, de tudo aquilo que é “invisível”  e que nos cerca.
[...]

Um comentário:

  1. Lua, pena as borboletas serem como o sol para nós, elas duram pouquíssimo tempo, mas é todo o seu tempo, e perto do sol somos o tempo de uma gota d'agua que cai de uma nuvem até a terra, de forma que o ser humano pode "decidir" manter-se dentro de um "casulo" que ele mesmo cria para que seu tempo não acabe.
    Bejus!!!

    ResponderExcluir

Fração de segundos...