quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Passo leve, política, Mudança?


Civilização com memória olvidada em movimento retilíneo desfigurado e, ênfase na holística controversa. Assim é o ser humano em relação á política. Principalmente brasileiros. Que com a mesma rapidez em que escolhem seus candidatos os esquece.
A ‘grande massa’ [como nos chamam] lembra e ‘discute’ [literalmente] sobre política à cada dois anos. Mas a expectativa aumenta à cada quatro anos. Pois, eleições municipais causam mais efeito á população de cidades do interior do nosso país. Afinal, o contato com o político é muito mais próximo, assim, fica mais fácil cobrar o prometido. E não pense que este ‘prometido’, tem relação com a saúde, transporte, que dirá com a educação dos cidadãos. Este ‘prometido’, tem muito [não seria tudo?] haver com os próprios bolsos. As pessoas contentam-se com as migalhas que são lançadas ao vento, e acabam por se esquecer de tudo que o governo poderia fazer e não faz. 
Não há espanto nisso, até porque, a maioria da população se quer sabe quão grande é o poder governamental. Comemos migalhas e arrotamos a melhor carne do mercado.
Então, observando a forma com que a política é tratada em cidades pequenas, podemos perceber como ela é tratada no Brasil inteiro. Afinal, nosso país é constituído de ‘grande massa’. Eleições presidenciais são devéras mais fáceis do que municipais. O Presidente, assim como o Governador, os Deputados e Senadores estão todos ‘muito’ longe da ‘grande massa’, interiorana. Por isso a tal ‘grande massa’ não se preocupa tanto com eles. Vota conforme a política municipal ‘manda’. No entanto, não deixa de tirar uma porcentagem de benefício próprio. O Governo Estadual e Federal estão longe, mas os próprios bolsos estão sempre perto.
A cada ano fica mais difícil encontrar não só políticos honestos, como eleitores honestos. Como podemos querer um Governo sem corrupção, se a grande maioria votante é corrupta? A corrupção não começa no Senado. Começa com a população brasileira que vende o voto, que se contenta com as migalhas. A ‘grande massa’ fica com as migalhas enquanto os ‘grandes homens’ ficam com as cuecas cheias de dinheiro. Então, quando a notícia aparece como um escândalo político na ‘grande emissora de TV’, ficamos todos indignados, por alguns dias, enquanto a TV mostra, depois esquecemos. Esquecemos e não nos damos conta de que o dinheiro na cueca [ou seja lá onde o coloquem] é resultado das migalhas que nos foram atiradas e que aceitamos. Esquecemos e aceitamos as coisas como estão.
Faltam livros nas escolas, ambulâncias nos hospitais, falta muito em todos os setores, e não ligamos... Só não pode faltar o salário mínimo no fim do mês! Esse sim tem uma importância enorme na vida do brasileiro. Afinal, como é que poderemos pagar a prestação da TV nova, ou do carro financiado com parcelas até o fim da vida, sem o bom e ‘velho’ salário mínimo? Como somos vorazmente perdulários! Como somos bestuntos em relação ao consumo. Como aceitamos tão facilmente o que a ‘grande emissora de TV’ diz. Como podemos aceitar a nossa própria manipulação sem nada fazer?
Nosso país cresce aos poucos, enquanto alguns homens crescem muito. E para ‘melhorar’ a apatia populacional só aumenta.
É de enorme consternação ver um país com uma ‘grande massa’ que não vê, não ouve, não fala, não sente nada além dos próprios bolsos; apenas concorda e mantém-se aprazível nos rumos que o país decide seguir. [ou estamos veemente estagnados?...]
Mais do que bons políticos precisamos de bons eleitores. Só assim podemos subsidiar o crescimento do país. Temos de apagar a ignorância misoneísta imposta, e lutar pela melhoria geral do país. Mas antes, precisamos crescer como seres humanos, como cidadãos, como eleitores. Precisamos nos conscientizar, juntar as migalhas que nos jogam para que o governo experimente a grande torta de mudanças que a ‘grande massa’ é capaz de produzir.[...]

Suscitar

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Arrancaram meus olhos e o puseram no lugar da boca.
Para que eu falasse tudo que eu sentia, sem medo do que eu via.
Para que eu falasse tudo que via, com o sabor misturado da saliva.
Para que eu visse tudo o que eu falava, e sentisse como quem via.
Para não engolir as lágrimas que de mim saíam; mas que sentisse a saliva que eu cuspia.
Arrancaram-me os olhos para ver o vazio que eu já tinha.
Puseram no lugar da boca, para que eu provasse o que em mim existia.
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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Colorindo o vento...

Andava ruas sem fim, procurando o lápis que continha todas as cores. Procurava entre arbustos e flores, temendo que as aranhas o encontrassem primeiro. Obstante caminhou. Caminhou até que os pés sangrassem e as pedras se acabassem diante do chão. Olhar para trás de nada adiantaria, estava muito longe de tudo aquilo que um dia viveu. Tão longe que tinha certa dificuldade em saber o que realmente havia vivido, e, o que era deveras, fruto de sua imaginação. Mesclou o surreal no real, e viveu. Um capricho seu, era encontrar tal lápis. Teria tudo com ele. Tudo! E a ambição de poder ter tudo, fez com que nem ao menos sentisse os pés ardendo em feridas, despejando sangue por onde passava. Não parou. Nem mesmo quando os grilos lhe ofereçam seu Império. Ignorou. 11 dimensões não faziam sentido algum. Árvores e carros de seis rodas não lhe serviam. Queria o lápis. O lápis que continha todas as cores, para assim, colorir toda a sua vida, que á esta altura estava totalmente ausente de cor.
Passou pela estrada de tijolos amarelos, encontrou a árvore com as maçãs envenenadas e por algum tempo, adormeceu naquele veneno. Entretanto, nenhum anão a encontrou. Contentou-se com as cigarras que cantavam as mais belas canções já ouvidas. E, embora desse valor algum pelas canções, insistente que é, as fez cantar a direção de onde se encontrava o lápis com todas as cores. Seguiu tal direção correndo. O corpo não cansava. Contudo, era obrigada a parar, deitar e desenhar escuras flores que as abelhas tratavam de clarear, e sugar a pequena quantidade doce que ainda havia entre seus dedos,  e que ela despejava nas flores que desenhava. Alguns ferrões não inoculavam sua pele, grossa, como casca de angico. As abelhas desistiram, e se foram na direção contrária à que seus pés traçavam.
O sol chorava, derretendo como a boca, quando toma uma sopa quente. A lua, no entanto, mantinha-se sensata, embora às vezes nociva aos olhos noturnos. Mas nenhum dos dois concordava que o lápis pudesse um dia pertencer a tal coração. Que nem sabia-se mais se batia, ou se estava numa esteira: sem perceber o que o alimentava. Era o que parecia. Não só coração, mas fígado e rim transpareciam o mesmo estado: total falta de vida.
O lápis era uma obsessão intensa, que não se importava com o funcionamento dos órgãos; que dirá da fotossíntese que estava bem em sua frente, nas árvores alimentando o ar. Compreensível: quem não entende o que está dentro de si, tão pouco conseguirá entender o que está fora; assim, não valoriza nem o que está dentro, nem o que está fora.
Experimentou as plantas mais amargas, e as frutas mais doces sem perceber a diferença. Parecia que os olhos viam tudo em preto e branco. Parecia que tudo tinha o mesmo gosto. E, mesmo no pólo norte, parecia estar em Cabo Verde. Números não tinham forma, assim como as letras. Confundia ovelhas e nuvens. Mal sabia o nome de cada uma. Mal sabia o próprio nome. Importava-se apenas com o lápis e, podia vê-lo em todo o lugar. Relutava com gravetos, fazendo-os expandir tinta pelos riachos. Certo dia, arrancou o próprio dedo, pensando ser o lápis. Não sentiu dor. Nem falta do mesmo.
Trapos cobriam parte do corpo, outra parte, nua, crua, roçava o chão e delirava-se. Nada tomava os pensamentos além do lápis. Nem mesmo quando encontrou os olhos mais puros, que lhe foram entregues, e, que recusou. Cegueira de tudo. Podiam morrer milhões aos seus pés, que não faria diferença alguma no mundo que criara. E que, era real. Tão real quanto o som que sai da vitrola e encanta as noites de gala em 42, entremeio à torturas que os olhos negavam-se a ver. Não sabia de 42, não sabia de ontem, e pouco ligava para o que acontecia agora. Só importava-lhe o lápis que continha todas as cores.
Tanto importava-lhe o lápis, que, o Sol e a Lua sabiam que nada faria quando o encontrasse. A não ser contemplá-lo. Se preciso, sem dúvida alguma, perfuraria o próprio abdômen para esconde-lo; para torná-lo parte do seu próprio ser. Transformar-se- ia no lápis.
Poderia, em verdade, transformar-se no lápis, mesmo sem o tê-lo. Mas isso jamais passara pela sua cabeça. Não via a própria capacidade de colorir. Precisava de algo que a colorisse, já que havia perdido todas as cores no decorrer da caminhada. [...]
Em certo amanhecer, encontrou-se em vertigem jamais vista, e o que parecia impossível aconteceu: lágrimas escorreram do rosto até a boca, levando o sal aos lábios. Não sabia o que era aquilo e tratou tal acontecimento com indiferença. Mas o sal atormentava seus pensamentos, e não sabia mais se queria encontrar o lápis. Então, deitou-se. Abriu os braços que pareciam estar atrofiados... Ali permaneceu. Sem nada pensar, sem nada saber. Uma vasta ausência de tudo tomou conta de cada poro que respirava. Espaço algum existia, matéria alguma existia naquele momento. O inexplicável aconteceu e tomou conta do explicável. Atirou-se na imensidão do nada.
Morosamente, o lápis com total prodígio, surgiu nos seus olhos. Um sorriso foi o sinal. Com toda cautela encarregou-se de pintar-lhe a pele e o coração. Deu-lhe novos olhos e costurou-lhe um dedo de flores. Fez-lhe roupas de folhas e passou-lhe mel nos cabelos. Os pés e a alma foram lavados com as águas do rio. Limparam-lhe os ouvidos, e pássaros cantavam em lá menor. Margaridas enfeitaram as mãos como anéis. O doce cheiro de canela enchia as narinas. Na boca, cerejas agiam como batom. Nesta altura, o nada estava longe. Foi substituído pelo todo que a cercava, e que havia esquecido. Tudo então fez parte de um mesmo ponto. O lápis apareceu, terminou o trabalho e se foi...
Ao abrir os olhos, estranhou a luz do sol. Tudo estava na mais perfeita harmonia, na mais sublime sintonia. Sentia-se genuína. Regozijava com os pés dançando no ar. Tudo era afável, tudo era motivo para enaltecer. Assim sorria. Assim permaneceu sorrindo... Até que a noite veio e as estrelas encarregaram-se de conduzir as pernas no melhor caminho. Agora, por onde passava, coloria. E, colorindo se foi...

Início da outra rua - mesma.

Fim de tarde gelado, mas o corpo é quente. Talvez isso ocorra devido à quantidade de casacos que tornavam a pele mais macia. Ou, pela alma, que, assemelhava-se às fogueiras da Inquisição. Alma que queimava alegremente, trazendo para o fim da tarde a balbúrdia entre calor x frio. Queimadura de delírios exposta nas folhas secas do jardim. Folhas delirantes! Dançando de mãos dadas com o vento, traçavam nos olhos uma pitoresca imagem, qual foi congelada. O riso escorria pela pele, podia senti r mesmo com tantos casacos tapando o corpo, impedindo-o de também dar as mãos ao vento, e, num gesto demasiadamente promíscuo ser levado pelo vento.
Assim permaneceu. Com folhas nos olhos, com mãos escondidas. Parada, em chamas. Os olhos cravaram-se e mudaram a órbita da visão. Direções sobrepostas agiam como lenha, mantinham o fogo alto: desenhando formas. Assim sorria: uma excentricidade hermética, lutando intensamente para permanecer no chão, como as folhas na praia em meio a uma borrasca. 
Do mesmo modo que lutava para permanecer no chão, relutava para ser levada o mais longe possível. Forjando a viagem inocular dos neurônios, atribuindo a culpa pela partida, ao vento. E assim fez...
Relógio algum fez refém aquele instante. A tarde gelada sentiu falta do calor, e, por ora, entristeceu-se. As folhas que jamais deixaram de dançar, trataram de alegrá-la. E ela, mesmo gelada, sentindo a falta do calor do corpo que já não estava mais ali, tratou de aquecer outros corpos que enganados ou não diante da vida, estavam ali, olhando o fim da tarde. [...]

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Nuvem no solo.

Amor é uma porção de partículas densas que se diluem no ar assim que entram em atrito com outras moléculas que despejam a mesma energia que elas no mesmo momento que explodem. Tal explosão, plausível, torna o vento mais leve, as cores mais vivas... O toque lentamente suga os segundos do relógio, semelhante à um buraco negro: suga tudo que os sentidos conseguem capturar, e cria o que eles não podem. A boca saliva intensamente. Como morder um pêssego e deixar a pele aveludar-se. Congela-se então, o exato momento da explosão. O cérebro resguarda cuidadosamente tal momento e, vez ou outra, com freqüência ou, em lentos dias, trata de passar neurônio á neurônio, até que os olhos se fechem mais uma vez, e a mesma sensação que invadiu o corpo na primeira explosão, o invade novamente. Como se uma chuva de pequenas explosões circulasse membros. Pequenos e grandes, cada um com a sua devida importância, cada um lutando para criar uma nova explosão. Cada um querendo ser uma nova explosão. No outro. Em si mesmo...
Como a unha precisando ser mordida e a pele aquecida. Fogo invisível que queima os ossos. As moléculas giram no feixe de luz que envolve os olhos, que ora se fecham, ora se abrem. O suor escorre das mãos e alcança o céu. Suor desenhando nuvens, onde os pés neste instante tocam.
Amor é a explosão mais pura. Jamais extenuante. Amor é a explosão mais pura: explosão interna que se compartilha. 
[...]

Equação. Questão.

Os dias passam como o bater de assas da borboleta que fica por horas parada na parede, como se nada mais importasse. E algo importa?
A importância que atribuímos aos elementos que movimentam a nossa vida, realmente tem devida importância? Quantas horas tem o seu relógio? Quantos dias o teu fígado faz hora extra e o teu cérebro fica à girar? Qual é o teu tempo? Tu sabes o tempo das flores? Quantas primaveras tuas narinas sofreram com o pólen que voava no ar? Quantas margaridas tuas mãos deixaram de colher, de plantar?
Qual é o sentido do teu respirar, do teu andar? Por quê escolhestes a esquerda e não a direita? Fósforo no lugar do isqueiro? Quantas pessoas poderias ter ajudado, e, ao invés disso condenou? Teu corpo precisa de todo o alimento que consome? Tu entendes o teu corpo? Sabe como os órgãos interagem entre si? Sabe como teus olhos olham para ti? Tem uma visão ampla e profunda do que passa diante da tua retina? Entende o olhar da Lua sobre a Terra? E o olhar da Terra sobre a Lua? Por acaso sabe mesmo o que são: Terra e  Lua? Onde você estava ontem a noite que não viu as estrelas? E se viu, imaginou a explosão?
Quantas vezes tua pele ainda consegue se arrepiar com o toque de alguém? E com teu próprio toque? Quantos números de telefone perdeu ou anotou? Quantos dias do calendário na parede funcionam? Quantos você contou, quantos deixou de contar? Nos teus passos, há espaço para observar? Quanto vale a memória do seu computador? Quanta memória você ainda tem? Esgotou? Quantos foram os teus velórios-vivos que você presenciou? Quantos provocou? Quanta vida espalha quando corre pro trabalho? Quanto trabalho tem a tua vida? Quantas respostas levaram um F? Existiram as que mereciam um V?
Quantos corações você esmagou sem perceber? Quanto o teu coração permitiu-se esmagar? Quantas línguas aprendeu a falar? Você entende as árvores lá fora? E as dentro de ti? Quantos cadernos você rabiscou? Quantos rabiscos o vento levou? Sabes o gosto da tua cama, da tua boca? Quantos foram os dentes que você arrancou? Quanta loucuras você pregou? Quanta sanidade você não notou? E as milhões de pupilas que você dilatou? Quantas foram as pessoas que você matou? Quanto arroz você cozinhou? Quanto conhecimento você vomitou? Quanta informação você engoliu?
Do que o teu cachorro gosta? Tua tartaruga não é um cachorro? E aquele peixe querendo comida? Você não respira em baixo d’água? Nem voa nesse vasto céu? O que é esta agulha no lado da cara? Tem pão na tua mesa? Sabe o valor do trigo? E do dólar? Estava na praia há séculos atrás? Onde tu moras quando não tem carnaval? Lê o jornal enquanto descansa? Queres entrar nesta dança? Chá chá chá ou iê iê iê? Quantas vogais tem o alfabeto? E pontos além dos i’s?
Você faz o que você quer? Você sabe o que você quer? Você tem o que você quis? Você é o que pensa ser? Você está aqui ou ali? Você come doce de amendoim? Você se importa com o que você diz? Você diz com o quê você se importa? Você por acaso se importa? Você sabe o que está acontecendo lá fora? Você busca uma vida melhor? O que é uma vida melhor?
Onde estão todos os teus pontos? Você sabe em quem confiar? Você almeja o altar? Cai na entrada do bar? Levita pensando estar a caminhar? Quantas pedras tem na tua rua? Em quantos banheiros você urinou? Você sabe quantos quilômetros teu pulso girou? Quantos foram os elementos que você classificou? Quantos foram os que você desvendou?
Onde está o teu sangue agora?
Quanta importância você congelou? Derreteu? Evaporou?
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O azul engole os pulsos,
 faz saltar dos olhos 
o doce mel. 

Abelha na flor
pintando as cores
 do arco-íris.
  
Alimentando a vida 
dentro da embalagem. 

Depois...
Apodreceu tudo. 

Somente o mel manteve-se doce,
enquanto o azul engole os pulsos. [...]
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