domingo, 27 de maio de 2012

Papéis escondidos, sentidos


E não há nada que se possa fazer. Você escolhe e define o gosto que pousa leve na sua língua úmida, de desejos – de viver [?]
E é assim. Corre. Vai. O A-lém está bem aqui!
E não há nada que se possa sentir, que já não esteja dentro de ti.
Seu ar escorre entre tuas veias e leva o sangue quente que ferve ainda mais o coração.
O pássaro voa, você permanece assistindo tudo com os pés no chão.
Não há nada que te faça voar, tuas mãos desconhecem o gosto intenso no prazer de tocar, a ti.
Então foge enquanto sorri juntando as mentiras que te fazem imergir – o teu sonhar sem agir.
Fácil como a cortina dançando com o vento.
E não haverá som algum que desperte o teu pensar, enquanto teu silêncio não conseguir falar.
Tua voz crua e pura convida os passos á gargalhar.
Os dentes secos almejam a saliva que esquenta o ar.
Por quê você insiste em caminhar?
E não há lugar algum que se possa descansar. Teus passos pesados afastam toda a sombra que pode inundar teu céu, teu mar e o teu ar. Teu termômetro está sempre no mesmo lugar.
A escuridão nos teus olhos, tu permanecerás a alimentar.
Não haverá sabor algum que teus delírios consigam tocar. Pois teu gosto se esconde nos cheiros amargos que lança o perfume eclodindo impuro o girar do ar.
Os ouvidos não mastigam a saliva do respirar – amar.
E nada fará teu coração pulsar nas manhãs de domingo enquanto os olhos fechados dos sábados sustentarem o impulso que se prende feito lago se negando a encontrar o mar.
Os sais dos dias adocicam os olhos, condensam forte-leve insistindo em libertar.
E não há nada que te faça escravo se não a vida escorrendo longe das tuas mãos. Teu alívio no fim da tarde mostra forte a ilusão.
A estrada é a mesma e os pés dizem não.
E não haverá nada que não lhe mantenha vivo, independente da tua percepção
.
Os pontos de partida e de chegada se estendem próximos da tua imensidão, interligados e conexos com o sim no teu não.
Diz-te se é orgânico o material que constrói as paredes do teu coração?

Sorri

Suave e delicado o brilho desliza pela pele fazendo tremer o coração. Os olhos se umedecem com os sentidos que transcendem toda e qualquer percepção. Então, com um leve sussurro das mãos, os movimentos repousam explodindo epifanias que libertam e recriam as direções. O gosto mágico que respira a vida faz nascer a sintonia que une toda a harmonia da vida, em uma única canção. [...] Para que as almas entrelaçadas dançando, contemplem o dia na noite sem medo da escuridão. Pois, os olhos são janelas abertas e devem ser Luz que reflete o amor do coração!

Amanhece no entardecer e floresce


Para onde vão as flores e
as pétalas imóveis que deslizam cravando no peito?
Remorso estranho e desejo
Ausência e lúcida nudez
Espaço , bocejo e a noite do galo gaulês
Plástico de colchão e papéis
Saturno procurando os anéis
De baixo da cama se esconde
O espelho sem teu sobrenome
A loucura querendo vez
E o desejo espremendo a maciez
Os lábios vermelhos de sangue
Cravo amargo na gengiva
Aparece a fumaça nas páginas
Amarelas, insípidas e vômito
Estômago revirando ediondo
O gosto agridoce da memória
Que repousa nos passos roendo as unhas
Com cores das flores mortas
Que com pétalas murchas se escondem
Entre o gramado verde e a estante
Dos troféus de prestígio constante
Que escorre pela pia junto com a espuma
Da raiva que repousa entre os dentes
Dilatados nas cores da árvore
Que lá fora sozinha chora
As flores plantadas no alto
Do altar sem terra e do ar
O brilho vil amarelo e outono
Com flores na cabeça e pétalas
Jogadas amaciando o chão
E o colchão de papel e plástico
Repousa a menina com flores mortas nas mãos.
Para onde vão as pétalas murchas,
cansadas, mastigando os olhos da grama molhada
Que aquece sem querer a pele que toca,
O inseto, certo, do errado vulcão. Coração.

Reflete o movimento



Acontece que era louca, e nada poderia fazer contra isso. Tudo ao seu redor se modificava com um toque invisível que me corroia de ansiedade os ossos. Queria saber o que ela estava vendo, ouvindo, cheirando, sentindo em cada partícula de vida que ela cuidadosamente, e, ás vezes, desesperadamente, fazia tremer no seu respirar. Queria respirá-la por completo! Tê-la toda em mim, inteiramente intensa e na sua forma mais pura. Queria sua essência, sua alma. Tudo que ela tocava. Sentia como se ela fosse uma extensão das estrelas, iluminando cada passo na chuva, ateando ainda mais o fogo nos dias de sol. Não há nada de mais magnífico do que os seus passos; com uma certa timidez que instigava, fazia aqueles olhos doces de menina ainda mais doces. Era como se as percepções de tempo nela fossem totalmente adversas, contrárias. Tudo soava antítese. E eu queria saber das suas teses, dos escritos e desenhos; dos sonhos e tormentos; dos beijos e lampejos nas noites de solidão. Ela andava e eu a olhava, de longe. Tomava meu café e esperava que o girassol tornasse a olhar para mim, para que ela passasse, totalmente desprovida de liberdade diante dos meus olhos, porque eu de certa forma a aprisionava; era como se fosse minha, sem saber. Como se seus desejos e atos fossem o meu pensar agindo, numa forma que eu jamais conseguiria viver. Mas ela conseguia. De alguma forma ela conseguia. E eu, não sabia se isso me incomodava ou me fazia sorrir. Queria ser eu. Lá. Mas, e não sou?

Despertar

-

São olhos repletos de luz

Um brilho que cega,

Prá mostrar o que não se vê, do que já se viu sem perceber.

Irradia o inverno que se faz eterno quando

O coração fraco se arrasta pelo chão.

Traz força nova á vida, um recomeço sem partida

Mostra delicadamente a direção.

Diz para ir, e vai.

Vou?

-


São estrelas derretidas que escorrem pela pele enquanto os olhos fascinam-se na imensidão das alturas. É assim que o sorriso delibera-se feito peixe dançando e repousando no mar. As ondas que as mãos desenham, tocam o enlevo do calor que compõe no gelo as sinfonias do amanhecer, enquanto o sol mastiga o anoitecer... E há sempre tempo.

Esmagadas as paredes, líquidos de gelo - solidão


As canecas se misturam com os pratos e os nossos passos jogados fora feito os sorrisos negados nos bom dias, acabam feito a poeira no sapato que não se usa mais. Os cadarços enforcam as lembranças e fazem chorar as vontades passadas no presente, que respira escondido nos papéis em cima da mesa, e que eu não quero olhar. Tampouco quero ver você outra vez, no espelho me olhando enquanto toca os desejos do outono. A primavera logo vem, com o frio do inverno e o calor do verão ainda derretendo o coração, quente. Teus lábios, longe dos meus, jamais estiveram tão perto como nessa manhã. Abro os olhos e tua perna desliza gélida entre as cinzas do cinzeiro que, eufórico no meio dos movimentos virou cavaco no chão, por isso o sangue na minha mão direita. Quem sabe se fosse esquerda, estaria manchada com a ilusão daquele Che e o chá da tarde. Conversas inúteis, teoria na visão e nada na imaginação, que dirá nas atitudes enterradas no chão. Tudo segue. A pipa no ar dança no sorriso do mulatinho que comprou o meu pão ante-ontem. Eu não quis sair nu. Mas roupa alguma me cabia na pele, nada me bastava, nem meus poros. A casca fróidiana, o maluco beleza dá-e-esquina e as prostitutas sobre a mesa do botiquim, tudo isso me faz pedir mais uma dose, de Gin. Amargura escondida na vida, leve. Ah, como peço que me leve! Na distância que aproxima o coração dos pés e das mãos; no amor que move o pensamento, transforma a ilusão, concretiza esse delírio que não cabe mais em mim e nem no chão... Quem sabe voasse, sumisse, se transmutasse. O absurdo. O gosto singelo que envolve a boca no sono do herói em missão. Tudo além daquilo que parece perto, longe, distante, pertinho do coração e das canecas quebradas, café coado no chão. Bom dia! Suspiros congelam o sopro do forno, os talheres e o fogão. Logo vem o almoço, jantamos amanhã então?

Assim


Naquele instante o coração acelerou incansavelmente. Fez o sangue correr em delírio sem acreditar nos olhos que viam, mas se afogando na lembrança do que sentiu nos dias passados, quando os passos ainda não distinguiam caminhos, e que se encantaram com aquele riso que agora, fazia-se perto. Como ver uma tempestade no horizonte. Ela poderá seguir até que molhe as roupas que acabo de estender no varal, ou destelhar as pequeninas casas da cidade que se limita entre os rios, e até pode se entregar ao vento, trazendo o sol de volta ao céu cinza. Então, diante de toda a distância entre as gotas de chuva nas nuvens e o chão, acabava por se distrair em qualquer outra situação de modo que se o sol aparecesse, não lembraria da tempestade que delicada aguçava os olhos no horizonte. Obstante, se a tempestade aparece molhando a janela, mais que depressa despiria o corpo para que a alma bailasse de encontro as gotas da chuva. Sem se importar com os raios que outrora derrubava as árvores, mas cegando-se na luz depois dos trovões. 

Quando a tempestade chegou, abraçou-a como quando era criança, que com medo e esperança abraçava os anjos antes de dormir...  A ansiedade comia-lhe os olhos no gesto que o tempo acelerava o coração por simplesmente, vê-lo, perto das mãos, mas principalmente, tocando o coração.