quarta-feira, 26 de maio de 2010

Fervura

De certa forma, estamos todos sozinhos. Sozinhos. E precisamos estar sozinhos, para depois estar perto de todo o ‘resto’.
Embora eu não concorde com a idéia de que possamos realmente conhecer, tomar conhecimento de outra pessoa além de nós mesmos, precisamos conviver com essas outras pessoas, para que, possamos nos conhecer.
São muitas as ‘fases’ [podemos atribuir essa palavra], para conhecer-se.
Desde que nascemos somos contaminados pelo todo que nos cerca. Crescemos em meio ás diversas idéias, teorias, conspirações sobre nosso meio, sobre nós mesmos. É difícil limpar os pensamentos para encontrar o nosso próprio pensamento. Vemos, aprendemos, produzimos e, vez ou outra criamos. Assim, as mudanças ocorrem freqüentemente, fora e dentro de nós mesmos. Estamos há todo instante nos adaptando, nos enquadrando naquilo que criamos como Vida, naquilo que construímos como nosso Ser. Então, como nosso meio torna a mudança interna e externa freqüente, fica difícil saber onde o nosso Eu realmente age sobre nós mesmos.
O trabalho de conhecer-se não tem um determinado tempo. Podemos começar esse processo inconscientemente em qualquer momento da vida. Quanto ao fim desse auto-conhecimento, não acredito que exista um ponto em que possamos dizer que nos conhecemos por completo. Estamos em constante caminhada, tanto individualmente quanto coletivamente. O que denomina nosso conhecimento sobre nós mesmos é a maneira com que caminhamos.
Quando agimos de maneira contrária ao que nossa sociedade prega, somos fitados pelos olhos que fazem parte dessa sociedade, como um indivíduo ‘doente’, não estamos agindo conforme a ‘saúde’ da nossa sociedade, portanto, precisamos tratar essa doença. Assim, ou abaixamos as calças e deixamos que a sociedade nos penetre, no sentido de mostrar o poder que ela tem sobre nós, ou erguemos a voz e mostramos o nosso timbre. O fato é que, grande parte da população mundial, abaixa as calças e permite que a sociedade as penetre. A prova disso é que, o homem, nas mais diversas etnias e gerações, acaba sempre por concluir que, o responsável pela mudança tem de ser o jovem. Como se somente ele fizesse o mundo girar. A todo instante ouve-se políticos, intelectuais, adultos no geral dizendo que o jovem é o responsável pela mudança, até mesmo os jovens concordam com isso. Eu discordo. Não existe uma geração responsável pela mudança, ou nos entrelaçamos e assumimos nossa total capacidade [não seria falta dela?] de fazer a mudança acontecer, sem denominar quem é o responsável prá que ela aconteça, sem se esquivar de tal responsabilidade, ou admitimos que não somos capacitados para promover mudança alguma. Precisamos agir. Porém, quando não agimos nem como nós mesmos, a probabilidade de agirmos em contato com a sociedade diminui, e muito.
Em determinado momento, precisamos parar e rever nossos pensamentos. Perceber o quanto nos deixamos afetar por nós mesmos e em contrapartida, ver o quanto o meio nos afeta. Nesse momento, precisamos pesar o que nos move ou nos deixa parados: pensamentos, atitudes... Saber onde a mudança deve agir e como ela deve agir. Precisamos saber onde está a nossa motivação de continuar respirando na sociedade e pela sociedade, para dar continuidade aos nossos passos.
A partir do momento em que percebemos claramente nossos pensamentos, onde nos deixamos influenciar, como nos deixamos influenciar, como devemos ou não agir, fica mais fácil saber por onde nossas pernas vão andar. Algumas portas se abrem outras se fecham. Somos nós quem abrimos e fechamos nossas portas e janelas. Estabelecendo e, vez ou outra, inovando nossas portas e janelas, os caminhos são construídos, assim também acontece com a maneira de caminhar.
Na medida em que caminhamos, em que nos encontramos, também encontramos outras pessoas, as quais acabam por fazer parte ou não do nosso caminho, e que também interferem no nosso jeito de caminhar, no nosso caminho a seguir. E na medida em que nos permitimos estar em contato com outras pessoas, a nossa introspecção tende a crescer. Dessa maneira, a mudança faz-se presente nos nossos dias.
Contudo, o equilíbrio é primordial. Precisamos tanto estar em contato com demais seres, quanto precisamos estar sozinhos. Começamos nosso processo sozinhos, e partimos para o contato na sociedade. Mas precisamos voltar a ficar sozinhos. Isso não quer dizer que tenhamos de nos isolar. Precisamos delimitar quando ou não, necessitamos de um deserto interior e/ou exterior.
Encontrar a harmonia e conseguir transmiti-la sem causar grandes explosões, talvez seja o maior desafio... Tão grande quanto transparecer quem se é, sem medo algum da compreensão alheia.

[...]

Linear


As mariposas são fáceis de dominar. Deixam-se levar pela simples [porém, com  muito efeito] luz de uma lamparina no meio de um casebre entre um riacho e um morro com pedras e vacas dormentes. Passam a noite ali, girando ao redor da lâmpada, encantadas, hipnotizadas pela luz. Gastam sua energia no bater de assas, sem retorno algum daquele momento. Apenas batem as pequenas asinhas mantendo-se soltas no calor da luz que faz a lamparina. Seus pequenos olhinhos são tomados pela intensidade do tom meio amarelado que se pinta sobre a luz. Ali permanecem, batendo as asinhas. Entretanto, quando a lâmpada se apaga, e o escuro toma o seu lugar, elas, tão simples como quando giravam, agora caem. Caem entre chão e paredes. O impacto que a ausência de luz causa nas pequenas mariposas é de tamanha intensidade, que, no momento em que o escuro toma o lugar da luz, já não existe mais nem luz, nem escuro para uma mariposa. Ela é tomada de uma amnésia imediata, que pára de bater as asas e cai, como se não soubesse onde estava, e para onde estava indo. Tão pouco sabe o que estava fazendo...
É preciso então encontrar um pequeno rastro de outra luz, outra lâmpada, para que ela então volte a bater as asinhas e retorne a girar.
Para uma mariposa, não existe distinção entre uma lâmpada e outra. É tudo luz. Luz que movimenta suas pequenas asas, entre uma noite e outra..

Que fazem as mariposas durante o dia? [Hei de observar.]

Sexo, drogas e Zumbies

[...]
[consciente do primeiro passo dado]

Vi o carro arrancar e sair. Nem tão rápido para chamar atenção, mas também, nem tão lento que quem estivesse no banco traseiro pudesse observar com nitidez o que acontecia na rua. Assim foram. Eu fiquei questão de quarenta minutos no bar e voltei para casa. Estava com o olhar meio embaraçado, com sensação de que poderia vomitar em qualquer instante. Resolvo acender mais um cigarro, sabia que tal atitude só faria com que eu me sentisse pior. Mas acendi, fumei um cigarro e agarrado entre uma e outra árvore, me batendo em muros e portões, chego em casa. Acordei quando o sol indicava que a hora do almoço já tinha passado. Minha cabeça dói. Não entendo ao certo como fiquei tão bêbado, mas lembrava que me pusera a beber uísque depois que me despedi dela. Logo comecei a sorrir, estava eu bebendo com ela noite passada. Isso muito me alegrava, me deixava com cara de bobo na frente do espelho; insegurança, não sabia o que me esperava.
Pensei em não sair naquela noite, não tentar encontrá-la. No entanto, acabei por satisfazer meus pensamentos e atravessar a porta que ia de encontro a rua, lá pelas nove horas da noite. Andei, andei. Não a vi. Nem ela, nem os amigos e amigas que se encontravam vez ou outra com ela. São tantas as possibilidades de lugares e coisas que poderiam estar fazendo, que tudo girava na minha cabeça, uma explosão de possibilidades. Decidi então, beber alguma coisa, apreciar e noite e voltar para casa; colocar a cabeça no travesseiro, fechar os olhos e deixar o tempo passar... Assim o fiz. [...]

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O futuro ficou prá trás... Agora o presente é constante. 
 Queria uma mala que coubesse no bolso.
Queria um bolso que coubesse uma mala.





E tenho. 
Meu nariz ficou cheio, querendo mais.


Ar.

No canto, tanto,

Palavras distorcidas, mentes inibidas.
Soar, cantar, voar...
Eu queria era ver o mar!
Não deixar a vida passar.
Estrelas sem nada rimar.
O céu prá iluminar,
Todo aquele mar.
Eu só quero flutuar!
Flutuar com as maçãs gigantes,
Não ver nenhum elefante,
Congelar cada instante.
Na mente o cigarro andante.
Que me leva
Que me traz
Que me move
Que me pára, e,
Só me deixa aquela palha.
Eu vou usar a tua navalha.
Não corte a barba, saia dessa barra.
Voe longe do avião que trabalha.
Traz a tua mala, mas não vá morar lá em casa, pois
A mobilha não é rara e
O cinzeiro já tá cheio.
Onde foi aquele cheiro? De mosaico escuro e feio?
Vou sair daqui do meio.
Talvez  volte em janeiro.
Pegue o sapato e vá embora!
Eu não vou chegar na hora,
O relógio meu quebrou
O colorido já chegou
Mas eu não quero agora, o corredor!


-

Tulipas vermelhas de plástico.
Plástico pintado de vermelho.
Onde está aquele azedo?
Por quê todo esse medo?

Eu não quero teu pão fresco,
Quero mais um beijo. Sem medo.

-

-Onde você vai? Perguntou o sapo ao urubu.

-Vou atrás de carne morta! [Cansei de comer vida.]




.-.rd

-

Uma noite qualquer, sem nada prá fazer,
Eu queria você.
Mas só quando eu não tiver nada prá fazer.
Afinal, eu nem gosto de você.

Cabeça.

É difícil saber o que pensar, seguir, ouvir... São tantas as coisas que nos cercam. São tantos os anúncios que nos mostram cada passo que devemos ou não dar. São tantas as regras a seguir, que já não sei mais onde é que eu realmente sou eu dentro de todo esse meio que me cerca.
Como posso me limitar a pensar que uma pessoa é o que ela veste, o que ela fala, o lugar que ela freqüenta. É injusto julgar, condenar alguém com gestos tão pequenos quanto estes. Mas é isso que ocorre. Nos limitamos em relação à outro indivíduo, transformando o todo que ele é, num só gesto ou palavra. Esquecemos que estamos todos submetidos a mudanças, que o nosso meio, muitas vezes interfere em nossas atitudes. Com isso, acabamos por ver somente o que, de algum modo, vai gerar um certo lucro aos nossos olhos. Vemos o que queremos enxergar. Independente se será ilusão ou não. Queremos sempre o que é melhor prá nós mesmos, esquecemos o outro.
É muito fácil limitar uma pessoa, ligando ela ao que ela fuma, por exemplo.
É fácil condenar, ver os erros alheios, mesmo que prá isso tenha de camuflar os próprios erros. E tratando-se de erro, algo certo hoje, pode vir a ser um erro amanhã; e nesse amanhã, quem sabe eu tenha que dizer que não cometi determinado erro. É o que quase todo mundo faz: esconder-se de si mesmo. Esconder-se do mundo.
Estou triste com atitudes assim. Me sinto injustiçada, em quê mundo estou vivendo? Por quê as pessoas não podem ser sinceras com elas mesmas? Por quê quando sou sincera, pago com meu sangue pela sinceridade?
Estou cansada do mundo, das pessoas que estão nele.
Não sei mais o que pensar, os dias são longos e as madrugadas são curtas demais.
Preciso ficar sozinha, preciso me mudar ou me fechar em mim mesma. Sumir talvez. Fugir disso tudo, respirar outro ar. Um ar longe até mesmo de mim. Quem sabe se eu ficasse invisível. Quem sabe se eu fosse morar no mar, no ar, numa nuvem lilás!
Ah, como tudo é poesia.
Até mesmo minha tristeza, minhas lágrimas escorrendo entre uma batida e outra do relógio. Entre um sopro e outro na minha alma. Ah, se as lágrimas parassem de cair, e eu pudesse me mexer, se eu pudesse morrer... Se eu pudesse te dizer. Eu não diria.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

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O que é dizer?
É transformar em vibrações os nossos sentimentos, os nossos pensamentos.

Não quero dizer. Só quero voar...

domingo, 16 de maio de 2010

E a noite?

À medida que esfriava eu colocava uma coberta a mais em cima das minhas pernas, de modo que meu sangue permanecesse quente como o molho de pimenta que meu pai preparava. Eu não podia morrer de frio. Não. Não me permito morrer de frio num mundo cheio de cobertores, aquecedores, casacos térmicos e toda essa parafernália que o ser humano inventou e ditou como necessário. Pegava mais uma coberta e arrumava os travesseiros nas minhas costas, de modo que ficasse confortável. [confortável? Como posso falar em confortável no estado em que encontro? Confortável seria estar me esquentando lá fora sentada no gramado, contemplado o calor do sol, não aqui nessa cama, submetida a cobertores fedidos sabe-se lá de quem foram. Mas não sei se tenho direito de reclamar. Afinal, fui eu mesma quem me conduziu até aqui, e graças ao meu cérebro que pensava, pensava pouco, mas pensava. Conseguiu fazer com que minhas pernas encontrassem um lugar como esse aqui, para velhinhas que já não tem mais onde ir. o fato é que eu tinha aonde ir. Mas perdi meu ticket. Me barraram na entrada do cometa. E como eu queria ter ido junto com o cometa...] Tenho de ficar ‘confortável’ para continuar minhas leituras. Ler e esperar a hora da sopa! Queria ver o que seria de mim se não gostasse de sopa. Ainda bem que aprendi a gostar desde jovem a comer sopa. Eu sabia do futuro que me esperava, por isso aprendi a gostar de sopa, muito antes de precisar dela.
A enfermeira que me traz a bendita sopa de todos os dias, com meia dúzia de grãos de arroz e algumas cenouras raladas, me olha com certa pena escorrendo pelos olhos. Deve pensar que eu não consigo fazer mais nada. Que eu sempre fui um nada, estou ciente. Contudo, pensar que eu não consigo mais fazer nada? Isso eu não admito! Mal sabe ela dos meus planos, de tudo que está na minha cabeça, mal sabe ela! Qualquer dia faço mil pedaços desse prato de sopa, e faço essa enfermeirinha voar pela janela com um só golpe! Não para que eu me sinta mais viva, mas para relembrar na prática os tempos que ficaram para trás, como as páginas do livro que eu devoro dia-a-dia, mas que ficam arquivados na minha memória. Tempos que estão bem vivos! Tão vivos quanto qualquer pessoa que anda pelas ruas sem saber onde está indo... Não faria isso para me sentir mais viva. Entretanto, faria para que essa enfermeirinha se sentisse mais viva. Eu a faria voar pela janela e quem sabe até quebrar algumas costelas, prá que na dor ela sentisse a vida pulsando. Esses jovens preferem sentir o gosto da vida na dor, então, quando estão com a cabeça na lama pedem prá morrer. Quanta infantilidade. Mas eu compreendo, também tive meus dias assim. E graças ao meu bom cérebro foram dias que passaram, e foram poucos. Como o vômito. Se vez ou outra eu não vomito em uma enfermeira, ou qualquer um que aparece aqui vestido de palhaço, cantarolando músicas sem graça, pensando que estão contribuindo para que o mundo fique mais feliz, com mais compaixão, que palermas! Se for prá cantar alguma coisa, que cantem um rock n’ roll! Enfim, se não vomito aqui e ali, esses filhos da mãe desses jovens, acabam por pensar que toda comida que entra pela boca, vai sair você sabe muito bem por aonde! Talvez seja por isso que eu bebia demais, prá vomitar e ver que o meu corpo repulsa o que não é bom prá ele. Da mesma forma que fazia quando lia o jornal.
Eu vou atirar ela pela janela, e me jogar junto! Quem sabe ela aprenda a voar. Algumas pessoas não aprendem a voar sozinhas, têm de ser atiradas pela janela! Mas antes de atirá-la pela janela, vou desenhar-lhe pequenas assas...
-Bom dia senhora capitã do vôo. Tome aqui seu remédio e coma toda sua sopa... Ainda pensa em desenhar assas em mim?
- Você não quer quebrar mais costelas, quer?

quarta-feira, 12 de maio de 2010

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Estar vivo dói.
O que alivia a dor é tudo que estava na maçã que Eva comeu: sexo, cigarros, whisky, rock n’ roll... É isso que anestesia a dor que os dias causam. O diabo sabia que viver doía, por isso fez a serpente entregar a maçã a Eva. Teve compaixão da pobre criatura que deus havia criado, e tornou a vida menos dolorosa.

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As crianças pintam sonhos no papel com o sangue que escorre nas ruas.

Os adultos insistem em eliminar uns aos outros para que o sangue escorra e as crianças não deixem de sonhar...

Caindo no chão

Como é difícil sair incólume do amor. 
E pensando no amor, como é irrisório o comportamento que a idéia de amor nos traz: pensar em outra pessoa mais do que se pensa em si mesmo; gastar o dinheiro do salário para comprar flores que vão morrer e, chocolates que vão se transformar em merda. Dizer frases sem sentido cheias de mel. Ficar em casa vendo filme, quando todos estão indo prá lua. Aprender a cozinhar macarrão ou qualquer coisa que venha a alimentar a pessoa por quem se esta ‘apaixonado’; enfim, uma porção de coisas no mínimo chistosas.
Tudo para que no fim, acabe em puro desagrado.
Não quero dizer que amor recíproco entre duas pessoas não exista, é claro que existe! E é fascinante! Entretanto, falo do amor camuflado que assombra toda e qualquer pessoa por aí. As pessoas confundem atração com amor. Deveríamos ser mais diretos e acabar com toda essa babaquice de ‘você é o amor da minha vida’, logo quando nossos olhos fitam um alguém por aí. Deveríamos ser mais diretos e falar: ‘eu quero é transar com você, não agora, quer dizer, agora se pudesse, só prá deixar claro que é isso... Então, vamos eliminar todas essas fases que se seguem: conquistas, encontrinhos e tudo mais, e vamos lá prá casa que hoje ta frio e eu não to afim de ficar aqui na rua.’ Seria bem mais fácil! Mas isso não acontece.
As pessoas não consideram tais atitudes prudentes. ‘Precisam’ do enlevo das conquistas, mesmo que uma semana depois estejam falando mal um do outro. Atitude que considero plausível, primeiro você come o feijão, se mantém vivo por algum tempo, aí você deixa o feijão prá que outro venha a esquentar esse feijão e venha a se satisfazer também.
Somos todos feijões prontos prá saltar da panela de pressão quando ela explodir.
No fim, toda essa casualidade de feijões pode render uma boa feijoada!

Dentro-fora do quarto

Já olhou o seu quarto de fora? Quer dizer, já deixou a luz acessa, trancou a porta e ficou do lado de fora experimentando as sensações que isso lhe causava?
Sentir-se do lado de fora de si mesmo. Como se a total inutilidade que se é, se refletisse atrás da porta, onde você não vê. Como se outra pessoa estivesse ali, no seu lugar, no lugar que foi seu, e que não é mais. Pelo menos por alguns instantes não é. Tudo que assombra o seu quarto sem você é o vazio de ser você.
Abra a porta, entre. Não seja impetuoso. Olhe prá você enquanto atravessa esse portal, seja idiossincrático com as coisas que formam o seu quarto, formam parte de você. Tranque a porta, desligue a luz e fique no seu vazio... E não vá pensar em cortar os pulsos, isso era moda quando uma desgraça se seguia de outra desgraça, trazendo loucamente a morte no ar. Hoje já estamos conformados com desgraças. Pouca gente vai realmente se importar com você depois que passarem dois anos que você cortou os pulsos. Então, nem pense nisso. Vá ler um livro...
E não pense mais nesse vazio que você é. No vazio que eu sou. No vazio que todo mundo é. Isso te enlouqueceria! Leia um livro e faça alguma coisa de útil... Abandone a onicofagia, roer as unhas sujas não é vantagem... Nem pintá-las com esmalte cintilante. Roa as unhas de outra pessoa, deixe as suas bonitas. É o que quase todo mundo faz. Não faça o que todo mundo faz... Faça amor com você mesmo, e pare de roer unhas. E pare de ler isso tudo também, vá escrever alguma coisa. Nada vai mudar, nada vai mudar, nada vai mudar. Os anjos cantam nos céus mostrando o caminho a seguir. E eu insisto em andar de encontro ao meio-fio...

terça-feira, 11 de maio de 2010

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Dói ser eu. Dói mais ser você.

domingo, 9 de maio de 2010

Construção de um dia de quem gera vida

De qualquer forma, somos todos arrancados do útero materno. Somos convidados a viver, e por vezes dizemos não a esta vida, direta ou indiretamente.
Celebramos então nossa vida na representação da nossa mãe. Celebramos o Dia das Mães, que assim como outras datas comemorativas, foi se adaptando na sociedade.
A idéia de comemorar o dia das mães surgiu com Gregos e Romanos; ambos politeístas, celebravam uma data homenageando uma deusa, intitulada mãe de todos os deuses. Com o cristianismo, passa-se a homenagear Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo, logo, mãe de todos os cristãos.
Contudo, data parecida com a que comemoramos hoje no século XXI, surgiu no século XVII na Inglaterra. Era o Domingo das Mães. Onde na missa, os filhos presenteavam suas mães. Neste domingo, filhos que moravam longe das mães, eram liberados de suas ocupações para que estivessem perto de suas mães.
A data então se expandiu, e dois séculos depois, em 1904, nos Estados Unidos, Anna Jarvis, com a idéia de homenagear a sua mãe que havia sido exemplo de vida, de solidariedade, pois havia prestado serviços comunitários durante a Guerra Civil Americana. Após uma campanha, a data então foi oficializada pelo Presidente Woodrow Wilson, em 1914, como sendo festa nacional. Após a oficialização da data nos EUA, outros países seguiram exemplo e implantaram a data nos mesmos. No Brasil, o Presidente Getúlio Vargas em 1932, assinou um decreto oficializando o Dia das Mães, como sendo o segundo domingo de maio. Daí em diante, os filhos dessa terra presenteiam suas mães, celebrando o seu dia.
Existindo então uma data comemorativa, nosso sistema veio a lucrar com isso. A idéia de comprar presentes para as mães, soa mais alto do que o próprio afeto a elas, contradizendo a idéia de Anna, que era homenagear a sua mãe solidária.
Desviamos o sentido do dia, porém, a satisfação em demonstrar o carinho que temos por nossas mães continua vivo. Mesmo que para alguns isso signifique o presente comprado e embrulhado.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Fora do compasso.

Eu não sou...
Eu não sou eu. Eu sou outra pessoa.
Não sou quando falo, ando, sorrio ou choro. Tão pouco sou meus pensamentos.
Eu sou o que acontece antes mesmo dos meus olhos abrirem. Eu sou a explosão que gera o pensamento, que faz com que minhas mãos e pernas se movimentem, suavemente. Portanto, não penso estar certo, afirmar que sou eu agora escrevendo. A menina que esta aqui escrevendo é controlada pela menina que eu sou, lá no fundo; olhando tudo de cima. Não posso dizer que eu sou este eu, mas sim, dizer que este eu, que agora está sentada a escrever, é uma parte na formação do meu eu. Um eu, muito mais complexo, do que gestos, palavras e pensamentos. Um eu, muito além da imagem que você vê quando me encontra na rua. Um eu que nem mesmo a chuva pode tocar...
Então, eu sou dividida em partes. Pequenas, grandes, com formas variáveis, que em determinado momento, possivelmente tornam-me real aos olhos daqueles que me cercam. Ou irreal, dependendo da maneira com que se olha. Posso até dizer que sou a mescla dos dois. Ora sou eu, ora sou a ausência desse eu.
Eu sou o azul escuro lá no fundo, que está tão perto da minha pele, quanto o mar está da areia. Eu sou a possibilidade que uma partícula do tempo, designou o rompimento das múltiplas forças, que deram o primeiro passo na explosão que separou todas as partes de mim, e que futuramente formariam o Eu que agora Sou. E o que sou agora, está em constante atrito com tudo ao meu redor, para que no suposto sim, que o meu eu desenhará, eu me desintegre e volte a ser as partículas divididas que em determinado momento fui, para então, estas partículas que agora estão divididas, comecem a se juntar novamente, na busca de formar um ‘novo’ eu, mais ‘certo’...
Eu sou, contudo, a interminável busca de mim mesma, que o eu maior que eu construiu nas batalhas dos eu’s que me formam, no intuito de tornar todos esses eu’s um só eu. Para que o eu que sou de verdade, pudesse então descansar depois de todas essas batalhas contra mim mesma, vendo que o eu que eu construí, consegue andar com as próprias pernas, sem eu estar ali, gerando todo o ‘caos’ para que elas se movimentem...
[...]

Caindo ao nada...

Como a neve, caindo tão suave como as folhas de outono.
Caindo e congelando tudo que ela tocar... Não me toque! Matar-te-ei aos poucos...
Congelarei cada célula do teu corpo quente. Sugarei todo teu calor e transformarei em gelo, para seres assim como eu, gelada. Arrancarei os passos dos teus pés. Fixá-los-ei no chão mórbido, sem vida... Roubarei de ti tua vida, assim como o ladrão na noite rouba bancos. Sem que perceba, estarei com minha mão envolta do teu coração... Sugando cada instante puro de vida. Por fim, no compasso certo, com um toque arrancá-lo-ei do teu peito. Aos poucos, congelado em minha mão ele estará. Então, jogá-lo-ei no chão que meus pés tocam, e ele se quebrará em infinitos pedacinhos, que se espalharão por determinado espaço ao meu redor. Os pedaços do teu coração se misturarão com o restante da neve que me cerca. Confundido será com a neve... Teu corpo cairá sem vida pulsando... Também se misturará a neve. Eu, ficarei ali até que possa ver seu corpo se desmanchar em meio ao frio. E, quando não puder mais distinguir o corpo da neve, conduzirei meus passos em meio a branquidão escura, que meus pés foram destinados a cruzar... Em busca de um novo coração para congelar, quebrar e continuar fazendo a neve cair...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Durma bem, ó deus de carne e osso, com dicionário em baixo do braço

Tão simples como as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
Como têm coragem de me dizer tais coisas? Como tem coragem de negar teus próprios olhos? Tua própria boca? Como tens coragem de cuspir na minha cara?
O que você é? Um deus vestido de homem, que anda pelas ruas á condenar as pessoas ao teu redor? Como podes moldar teus pensamentos afim de que pareçam certos, aos que te idolatram?
Ó deus de carne e osso, com um dicionário em baixo do braço.
Nega-te á carne depois de satisfeito.
Fixa teus olhos naquilo que almeja. Distorce os passos para confundir tua cabeça.
Sabes tu o que fazes? Sabes tu o que dizes? Sabes tu do caos que construiu?
Tu só sabes daquilo que tocas, da frágil vida que tem nas mãos.
Dos lábios que ao teu redor pintam teu prazer.
Dos passos que desfilam sorrisos ao te ver.
Tu preferes a água ao vinho, e te achas mais sábio por isso.
Me condenas, me coloca na fogueira da tua própria alma. Queima a minha.
Tu me dizes frases com voz de Rei, decretando tua verdade no vento.
Tapa os ouvidos quando abro minha boca. Não percebe que dela não sai som algum...
Jogue fora tuas roupas, pois elas ainda tem meu cheiro. Faça como fiz com o meu coração...
Ó deus de carne e osso, qual será teu próximo milagre?

-

O que aconteceu?

Ela se matou.

Nos dedos do asfalto


  1.  Que dia é hoje, que dia foi ontem, que dia será amanhã? O que você tem feito, pensado, contornado?

  2.  De qualquer forma isso não vai parar. Não mesmo. Perguntas, respostas. Perguntas, respostas. Pessoas falando ao redor. Pessoas falando dentro de você. O ser humano e a necessidade de falar. Até mesmo eu aqui sozinha falo comigo mesma. Minha voz rouca, louca, fria e quente batendo nas paredes e voltando ao meu corpo. Já jogou futebol? Não faz diferença, você sempre está correndo atrás de uma ‘bola’, mesmo que não perceba. Mesmo que a bola seja uma berinjela. Uma berinjela refogada com milho e molho para misturar com arroz. Mastigar, engolir e continuar ‘vivo’. É assim o ciclo. Ciclo? Lua? Mulher esperando para procriar?

  3. Não sei.

  4. Tinta, tinta, tinta para pintar as flores azuis de branco. Cansei do azul e não consigo fazer nascer algumas brancas, terei de pintá-las então, pensei. A loja não tem tinta branca só vermelha, contentar-me-ei com as flores azuis, ou as pintarei de vermelho mesmo? Tanto faz, perdi a vontade de pintá-las, posso mudar a cor delas a hora que eu bem entender, agora elas estão laranja com tom apimentado! E no meu quarto soa o som da chuva que cai em Paris, ou em qualquer lugar que chego depois que acaba o mar. O mar acaba?

  5. Disseram-me que sim, mas eu não tenho um navio, nem sou Cabral para desvendar esse mar. Não que isso me impeça de velejar, posso estar no mar agora! Esse mar que tem a cor que o céu ditou, como me disseram um dia...

  6. O mar é tão maior que eu, que mesmo me engolindo, ele não me sentiria. Ele pode me engolir, eu no entanto, acabaria morrendo se tentasse engoli-lo. É como tentar comer um sapato, o sapato não pode morrer se tentar te devorar, agora, tente você fazer um cozinhado de sapatos e coma no jantar. Quem tentaria fazer um cozinhado de sapatos? Eu nem sapato tenho para poder fazer isso, quem sabe faça com meus pés.

  7. Meus pés, que me levaram para cima e para baixo tantas e tantas vezes. Seria digno comê-los. Uma honra eu diria. Assim como comer os pés de qualquer outra pessoa. Estamos a devorar as pessoas a nossa volta a todo instante. Posso ver o sangue humano escorrendo entre uma boca e outra que encontro andando na rua.

  8. Estamos todos manchados de sangue.

  9. Sangue e a purpurina que transmite a idéia de que está tudo bem. Tão bem quanto estar vivo, quanto ter o que vestir e comer e morar. Estamos todos vivendo bem! Não se preocupe, diz o jornal, você pode ter a mais nova versão de vida moderna com o preço mais barato do mercado, em dez vezes sem juros! Vamos todos então, correndo, comprar a vida em pacotinhos! É assim. Como dirigir um carro, uma bicicleta ou movimentar as pernas num vagão de trem. É tudo movimento! Coma o que quiser, prá mim é só comida. São só ratos andando por aí de esgoto em esgoto, procriando, vivendo de restos. No meio da poeira. [...]

  10. Faça o que quiser, pague o preço por isso.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Se mesmo pensando em nada, continuo pensando, como posso esvaziar-me de mim mesma?

terça-feira, 4 de maio de 2010

Pouco importa.

Enquanto termino meu banho, meus pés deslizam tocando suavemente o chão gelado. As coisas não são complicadas para serem entendidas, compreendidas. Somos nós quem dificultamos o todo/nada que nos cerca. Somos nós quem criamos o todo/nada que nos cerca.
Essa é a grande verdade sobre mim mesma. Sou eu quem desenho minhas nuvens, pinto meus sorrisos e salgo minhas lágrimas. Sou eu quem escolhe se vou acender mais um cigarro ou se vou beber mais uma dose. Sou eu a responsável por transformar cada gota de suor em poesia, também sou só eu quem vê poesia nisso.
É como sentir gosto de mel no limão, ou vice-versa.
[...]
Roubaram-me até mesmo as palavras, que eu tanto movimentava entre minhas células. Isso me faz pensar, e sentir na pele, a minha total falta de capacidade de convivência com a realidade alheia. Não consigo mais. Não me atrai mais. Não posso mais. Então, eu, que sempre dissera sim, para tudo que tinha vontade, não havia feito nada até então que não estivesse realmente com vontade. Mesmo que não parecesse. Mas precisava ser sincera comigo mesma, para que pudesse ser com os outros ao meu redor. Talvez seja por isso que tenho desviado meus pensamentos. Por que já não sinto mais a mesma vontade que sentira em determinado momento. Não posso mais compartilhar meu ‘mundo’, você não entende ele. Eu entendo o teu perfeitamente, ao contrário de você, que não entende o meu. Não que eu esteja te julgando, te condenando por não entender o meu ‘mundo’, não faço isso. Como disse, eu te entendo. Entendo você e o teu ‘mundo’, mas não posso fazer você entender o meu. Por isso me calo. Congelo meus movimentos sem ‘sentido’. Torno-me nua diante de tudo que me cerca.
Talvez eu tenha perdido o controle. Talvez eu nunca tive o controle. Apenas desenhava. Quem sabe no momento em que você me jogou tinta, alguma coisa realmente tenha mudado, tenha feito meu ‘mundo’ mudar a velocidade. Por isso tremo agora.
Minha garganta dói, meu braço dói, minha alma dói. Não a dor como senti em algum momento. Mas a dor, numa forma diferente, mais calma eu posso dizer.
As palavras saem desnorteadas, não há coesão, coerência, nem preocupação para que isso aconteça. Não há nada, nem olhos. O que aconteceu? Olhe para cima, olhe para cima, sinta quão lá em baixo você está. É assim. Como roer as unhas, elas crescerão novamente e você continuará a roer. Até que alguém te convença a parar de roer, ou alguém passe uma cor nelas para dar uma aparência bonita, ou você esqueça que existem unhas para roer, e comece então a roer os próprios joelhos.
Preciso de um cigarro. Autodestruição, sim. Cigarro destrói tanto quanto continuar respirando e concordando que as coisas estão mudando.
Sabe que, talvez o que realmente esteja nos distanciando seja isso. Você pensa que o mundo pode mudar e tenta fazer algo por isso; eu sei que o mundo não vai mudar. E não há nada que você, eu, ou qualquer outra pessoa faça, que vai fazer isso mudar. Chame de pessimismo se quiser. Eu não me importo. Não me importo com você. Não sinto nada por você. Não consigo sentir por mim, como posso sentir por você? Esse talvez seja o ‘erro’ das pessoas. Vão de encontro a outras pessoas, na expectativa que estas últimas mostrem um ‘novo’ mundo ou, até mesmo, o mundo que revelem o seu próprio mundo, pois tu não o consegues ver. Não percebem que eu, ou você, ou sei lá, o papa, não pode mostrar nada além daquilo que já esteja no seu próprio ‘mundo’. Não se pode dar a visão daquilo que não foi visto algum dia.
Ninguém obriga ninguém a fazer nada. Nós é quem nos obrigamos a fazer certas coisas. A acreditar ou não, a seguir ou não, a escrever ou não, a ter sentido ou não.
Tudo é decomposição, tudo é natureza. Eu sou contra a natureza. Natureza dói. Eu não sou esse corpo podre que definha dia á dia. Acho que é isso. Não aceitar a doença que eu sou. Que me corrói, me mata. Olhe para mim, olhe para mim. Olhe para você. Não olhe para nada. Não faça nada. Não queira nada. Queira.
Queira voar para bem longe. Longe de tudo, onde não exista nada para fazer qualquer som. Tire as roupas e vá. Tire tua própria voz e vá. Abandone o vício que é ser você mesmo. Quem é você mesmo? Sergipe ou Ceará? Tanto faz. É tudo igual, tudo tão igual. Eu, Você, Deus.
Luz e a sua ausência.
Isso ainda não acabou...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

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Seja lá quem eu tenha sido um dia, morri junto com o vento daquela madrugada.