quarta-feira, 26 de maio de 2010

Linear


As mariposas são fáceis de dominar. Deixam-se levar pela simples [porém, com  muito efeito] luz de uma lamparina no meio de um casebre entre um riacho e um morro com pedras e vacas dormentes. Passam a noite ali, girando ao redor da lâmpada, encantadas, hipnotizadas pela luz. Gastam sua energia no bater de assas, sem retorno algum daquele momento. Apenas batem as pequenas asinhas mantendo-se soltas no calor da luz que faz a lamparina. Seus pequenos olhinhos são tomados pela intensidade do tom meio amarelado que se pinta sobre a luz. Ali permanecem, batendo as asinhas. Entretanto, quando a lâmpada se apaga, e o escuro toma o seu lugar, elas, tão simples como quando giravam, agora caem. Caem entre chão e paredes. O impacto que a ausência de luz causa nas pequenas mariposas é de tamanha intensidade, que, no momento em que o escuro toma o lugar da luz, já não existe mais nem luz, nem escuro para uma mariposa. Ela é tomada de uma amnésia imediata, que pára de bater as asas e cai, como se não soubesse onde estava, e para onde estava indo. Tão pouco sabe o que estava fazendo...
É preciso então encontrar um pequeno rastro de outra luz, outra lâmpada, para que ela então volte a bater as asinhas e retorne a girar.
Para uma mariposa, não existe distinção entre uma lâmpada e outra. É tudo luz. Luz que movimenta suas pequenas asas, entre uma noite e outra..

Que fazem as mariposas durante o dia? [Hei de observar.]

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