quarta-feira, 26 de maio de 2010

Fervura

De certa forma, estamos todos sozinhos. Sozinhos. E precisamos estar sozinhos, para depois estar perto de todo o ‘resto’.
Embora eu não concorde com a idéia de que possamos realmente conhecer, tomar conhecimento de outra pessoa além de nós mesmos, precisamos conviver com essas outras pessoas, para que, possamos nos conhecer.
São muitas as ‘fases’ [podemos atribuir essa palavra], para conhecer-se.
Desde que nascemos somos contaminados pelo todo que nos cerca. Crescemos em meio ás diversas idéias, teorias, conspirações sobre nosso meio, sobre nós mesmos. É difícil limpar os pensamentos para encontrar o nosso próprio pensamento. Vemos, aprendemos, produzimos e, vez ou outra criamos. Assim, as mudanças ocorrem freqüentemente, fora e dentro de nós mesmos. Estamos há todo instante nos adaptando, nos enquadrando naquilo que criamos como Vida, naquilo que construímos como nosso Ser. Então, como nosso meio torna a mudança interna e externa freqüente, fica difícil saber onde o nosso Eu realmente age sobre nós mesmos.
O trabalho de conhecer-se não tem um determinado tempo. Podemos começar esse processo inconscientemente em qualquer momento da vida. Quanto ao fim desse auto-conhecimento, não acredito que exista um ponto em que possamos dizer que nos conhecemos por completo. Estamos em constante caminhada, tanto individualmente quanto coletivamente. O que denomina nosso conhecimento sobre nós mesmos é a maneira com que caminhamos.
Quando agimos de maneira contrária ao que nossa sociedade prega, somos fitados pelos olhos que fazem parte dessa sociedade, como um indivíduo ‘doente’, não estamos agindo conforme a ‘saúde’ da nossa sociedade, portanto, precisamos tratar essa doença. Assim, ou abaixamos as calças e deixamos que a sociedade nos penetre, no sentido de mostrar o poder que ela tem sobre nós, ou erguemos a voz e mostramos o nosso timbre. O fato é que, grande parte da população mundial, abaixa as calças e permite que a sociedade as penetre. A prova disso é que, o homem, nas mais diversas etnias e gerações, acaba sempre por concluir que, o responsável pela mudança tem de ser o jovem. Como se somente ele fizesse o mundo girar. A todo instante ouve-se políticos, intelectuais, adultos no geral dizendo que o jovem é o responsável pela mudança, até mesmo os jovens concordam com isso. Eu discordo. Não existe uma geração responsável pela mudança, ou nos entrelaçamos e assumimos nossa total capacidade [não seria falta dela?] de fazer a mudança acontecer, sem denominar quem é o responsável prá que ela aconteça, sem se esquivar de tal responsabilidade, ou admitimos que não somos capacitados para promover mudança alguma. Precisamos agir. Porém, quando não agimos nem como nós mesmos, a probabilidade de agirmos em contato com a sociedade diminui, e muito.
Em determinado momento, precisamos parar e rever nossos pensamentos. Perceber o quanto nos deixamos afetar por nós mesmos e em contrapartida, ver o quanto o meio nos afeta. Nesse momento, precisamos pesar o que nos move ou nos deixa parados: pensamentos, atitudes... Saber onde a mudança deve agir e como ela deve agir. Precisamos saber onde está a nossa motivação de continuar respirando na sociedade e pela sociedade, para dar continuidade aos nossos passos.
A partir do momento em que percebemos claramente nossos pensamentos, onde nos deixamos influenciar, como nos deixamos influenciar, como devemos ou não agir, fica mais fácil saber por onde nossas pernas vão andar. Algumas portas se abrem outras se fecham. Somos nós quem abrimos e fechamos nossas portas e janelas. Estabelecendo e, vez ou outra, inovando nossas portas e janelas, os caminhos são construídos, assim também acontece com a maneira de caminhar.
Na medida em que caminhamos, em que nos encontramos, também encontramos outras pessoas, as quais acabam por fazer parte ou não do nosso caminho, e que também interferem no nosso jeito de caminhar, no nosso caminho a seguir. E na medida em que nos permitimos estar em contato com outras pessoas, a nossa introspecção tende a crescer. Dessa maneira, a mudança faz-se presente nos nossos dias.
Contudo, o equilíbrio é primordial. Precisamos tanto estar em contato com demais seres, quanto precisamos estar sozinhos. Começamos nosso processo sozinhos, e partimos para o contato na sociedade. Mas precisamos voltar a ficar sozinhos. Isso não quer dizer que tenhamos de nos isolar. Precisamos delimitar quando ou não, necessitamos de um deserto interior e/ou exterior.
Encontrar a harmonia e conseguir transmiti-la sem causar grandes explosões, talvez seja o maior desafio... Tão grande quanto transparecer quem se é, sem medo algum da compreensão alheia.

[...]

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