terça-feira, 4 de maio de 2010

Pouco importa.

Enquanto termino meu banho, meus pés deslizam tocando suavemente o chão gelado. As coisas não são complicadas para serem entendidas, compreendidas. Somos nós quem dificultamos o todo/nada que nos cerca. Somos nós quem criamos o todo/nada que nos cerca.
Essa é a grande verdade sobre mim mesma. Sou eu quem desenho minhas nuvens, pinto meus sorrisos e salgo minhas lágrimas. Sou eu quem escolhe se vou acender mais um cigarro ou se vou beber mais uma dose. Sou eu a responsável por transformar cada gota de suor em poesia, também sou só eu quem vê poesia nisso.
É como sentir gosto de mel no limão, ou vice-versa.
[...]
Roubaram-me até mesmo as palavras, que eu tanto movimentava entre minhas células. Isso me faz pensar, e sentir na pele, a minha total falta de capacidade de convivência com a realidade alheia. Não consigo mais. Não me atrai mais. Não posso mais. Então, eu, que sempre dissera sim, para tudo que tinha vontade, não havia feito nada até então que não estivesse realmente com vontade. Mesmo que não parecesse. Mas precisava ser sincera comigo mesma, para que pudesse ser com os outros ao meu redor. Talvez seja por isso que tenho desviado meus pensamentos. Por que já não sinto mais a mesma vontade que sentira em determinado momento. Não posso mais compartilhar meu ‘mundo’, você não entende ele. Eu entendo o teu perfeitamente, ao contrário de você, que não entende o meu. Não que eu esteja te julgando, te condenando por não entender o meu ‘mundo’, não faço isso. Como disse, eu te entendo. Entendo você e o teu ‘mundo’, mas não posso fazer você entender o meu. Por isso me calo. Congelo meus movimentos sem ‘sentido’. Torno-me nua diante de tudo que me cerca.
Talvez eu tenha perdido o controle. Talvez eu nunca tive o controle. Apenas desenhava. Quem sabe no momento em que você me jogou tinta, alguma coisa realmente tenha mudado, tenha feito meu ‘mundo’ mudar a velocidade. Por isso tremo agora.
Minha garganta dói, meu braço dói, minha alma dói. Não a dor como senti em algum momento. Mas a dor, numa forma diferente, mais calma eu posso dizer.
As palavras saem desnorteadas, não há coesão, coerência, nem preocupação para que isso aconteça. Não há nada, nem olhos. O que aconteceu? Olhe para cima, olhe para cima, sinta quão lá em baixo você está. É assim. Como roer as unhas, elas crescerão novamente e você continuará a roer. Até que alguém te convença a parar de roer, ou alguém passe uma cor nelas para dar uma aparência bonita, ou você esqueça que existem unhas para roer, e comece então a roer os próprios joelhos.
Preciso de um cigarro. Autodestruição, sim. Cigarro destrói tanto quanto continuar respirando e concordando que as coisas estão mudando.
Sabe que, talvez o que realmente esteja nos distanciando seja isso. Você pensa que o mundo pode mudar e tenta fazer algo por isso; eu sei que o mundo não vai mudar. E não há nada que você, eu, ou qualquer outra pessoa faça, que vai fazer isso mudar. Chame de pessimismo se quiser. Eu não me importo. Não me importo com você. Não sinto nada por você. Não consigo sentir por mim, como posso sentir por você? Esse talvez seja o ‘erro’ das pessoas. Vão de encontro a outras pessoas, na expectativa que estas últimas mostrem um ‘novo’ mundo ou, até mesmo, o mundo que revelem o seu próprio mundo, pois tu não o consegues ver. Não percebem que eu, ou você, ou sei lá, o papa, não pode mostrar nada além daquilo que já esteja no seu próprio ‘mundo’. Não se pode dar a visão daquilo que não foi visto algum dia.
Ninguém obriga ninguém a fazer nada. Nós é quem nos obrigamos a fazer certas coisas. A acreditar ou não, a seguir ou não, a escrever ou não, a ter sentido ou não.
Tudo é decomposição, tudo é natureza. Eu sou contra a natureza. Natureza dói. Eu não sou esse corpo podre que definha dia á dia. Acho que é isso. Não aceitar a doença que eu sou. Que me corrói, me mata. Olhe para mim, olhe para mim. Olhe para você. Não olhe para nada. Não faça nada. Não queira nada. Queira.
Queira voar para bem longe. Longe de tudo, onde não exista nada para fazer qualquer som. Tire as roupas e vá. Tire tua própria voz e vá. Abandone o vício que é ser você mesmo. Quem é você mesmo? Sergipe ou Ceará? Tanto faz. É tudo igual, tudo tão igual. Eu, Você, Deus.
Luz e a sua ausência.
Isso ainda não acabou...

Um comentário:

Fração de segundos...