terça-feira, 17 de dezembro de 2013

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Estas tuas palavras mortas
que saem pela tua boca torta
nada dizem, e não há perdão.

Tua voz não tem ouvido,
contenta-te em traduzir os vícios,
negados, na contramão.

Estes teus dedos de gente,
teu sorriso displicente
é amargura e solidão.

Tua cara mal lavada
a preguiça escancarada
mostra-se na tua direção.

Estes teus passos sem nome,
roubados foram, daquele homem,
entristece o teu viver.

Teu olhar estupefato
diante outro escapulário
desvanece o teu querer.

Estes teus pés de indigente,
tua cobiça displicente 
só mostra quem tu almeja ser,

mas não é.

Há, se tu te orgulhasses das pegadas dos teus pés.
[fazer o quê, se para você, é mais bonito aparentar estar na tv?!]


domingo, 15 de dezembro de 2013

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Estáticas as mãos destroçam os vidros da janela que não se abre.
São mil olhos escondidos nas paredes do corredor
e tu estás cego.
O vidro corta-te os dedos sem sangue -
a vida escorre em rios distantes.

Desfez as malas
reuniu as tralhas e
compôs uma canção para enfim cantar.
A voz ecoou penetrante e os vidros
espalhados já não são importantes - 
os dedos jorram sangue: flores e diamantes.

A Terra a girar.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

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Esses teus olhos desgastados não enganam mais os meus passos. 
Teu rosto bonito é ultrapassado - distante. 
Faz meu vômito nada errante e te queimo com gelo - sofrendo o inverno distante. 

Sem alfabeto teu nome nada mais diz. 
Esforça-se com sorrisos engasgando o jantar -
não quero mais te olhar 

Essa tua luta constante,
enfadonha - tu és igual.

Tua arte é plástico,
teu respirar trágico

o teatro soprando a vida enquanto cospe em teus sapatos
tu não precisa de nariz de palhaço,
não tens faca e nem queijo na mão,
logo terás somente uma direção.

Esses teus olhos desgastados escondem
o sofrimento que respira na tua pele tingida,
transvestida de peseudohumanização

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

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Olhou para trás mais uma vez e o viu longe, parado. Como se estivesse olhando em sua direção. Na realidade, conseguia ver claramente os seus olhos, apesar dos trinta e tantos passos de distância:
trazia a mesma esperança que se transformava em riso de criança – puro.
O admirava. Por isso, jamais teve coragem de dizer qualquer frase em sua direção. As palavras atravessavam-lhe a garganta, faziam pulsar rápido o coração e as mãos tremiam. Então acendia incessantemente os cigarros e mantinha os pés descalços, longe. Nada seria em vão.
Sabia.
Jamais tocaria o seu coração. Não queria.
Manteve os olhos distantes uma última vez, voltou o corpo em frente e construiu uma nova direção. Nada fora em vão,

os passos seguem leves, sem tocar o chão.