quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Lume dos Olhos


Sentada à beira de mim mesma, tendo em minha frente tantos pensamentos. A canção me diz que os pássaros continuam a cantar. E eu, todos nós temos de continuar a cantar. As pessoas cantam como os pássaros. Existe alguma diferença entre o homem e o pássaro, quando a questão é cantar? Quem sabe a distância das cordas vocais inebriando o som. [...]
Nós escolhemos a trilha sonora da nossa vida; somos responsáveis por cada semitom da nossa caminhada. Escolhemos quando o espetáculo começa, e somos nós que fechamos as cortinas. Temos de criar nossa própria partitura; decidir a hora de trocar ou não de acorde. Ter os ouvidos aguçados, prara conseguir distinguir a hora certa de usar as bemóis. A escala rústica-diatônica pode não sair perfeita [afinal, tratando-se de perfeição, há muito a questionar...], o importante é fazê-la! Transpassar os dedos, ir e voltar. Mas não ficar no mesmo lugar. Temos de andar. Muitas serão as vezes que precisaremos repensar. Talvez determinada música fique melhor em outro tom. Precisamos ter coragem prá voltar atrás; trocar a música de tom, melhorar os arpejos. A questão é: temos tempo prá voltar atrás? As pessoas a nossa volta, e até mesmo nós mesmos, já podemos ter nos acostumado [não me rendo a esta última palavra] com o som que sai do trompete? Por que nos rendemos tão facilmente à sociedade a nossa volta? Rendemos a nós mesmos e as nossas pequenas vontades.
Nos rendemos a todo instante [sim, me incluo porque presencio tudo isso, posso até dizer que faço parte disso tudo, como é bastante óbvio]. Não precisamos olhar ao redor, é só olharmos para nós mesmos, que vamos encontrar a rendição com as mais variadas faces. Sete notas musicais [e todas as suas ‘variantes’], e insistimos em permanecer na mesma nota. Na mesma seqüência de dedos, no mesmo bocejo depois de um dia intenso de trabalho. Aceitamos tão fácil a decepção, que as tentativas não acontecem mais com tanta freqüência, do que quando tínhamos 10 anos e, nos esforçávamos prá montar um castelo com cartas velhas de baralho, onde repousavam os mais ferozes dragões.
Como escrevi anteriormente: ‘ nos conformamos’. Pergunto-me todos os dias: porque não vou além? Por que não vou mais além ainda? Ainda não encontrei uma resposta que me aquietasse (nem singular, nem plural).
Talvez, à medida que enfrentamos partituras mais complicadas, complexas, acabamos por desistir. Por seguir com aquilo que se aprendeu. Às vezes não se queira ir além; então se constrói uma sinfonia com o que se tem [talvez seja por isso que existem tantas coisas ‘ruins’ nos mais variáveis campos do mundo]. E quando se fala em ‘ter’; o pouco pode ser muito, e vice-versa [depende da qualidade, que existe (ou não) por aí].
Olho ao meu redor, nesta tarde de domingo, com sol rachando aqui ao lado; o vento meu amigo me refresca enquanto a minha alma dança. E olhando as ruas que atravessam minha casa, estão as pessoas. Todas rendidas [afinal, de certa forma estamos todos rendidos à alguma coisa; podemos achar que não, mas estamos; e se não fomos rendidos ainda, qualquer dia alguém nos rende na rua e nos leva o relógio. Nesse dia, apesar de tudo, sorria; porque por um instante estarás solto do tempo que tanto estava a te render, e você nem via]. De qualquer forma, podemos escolher que instrumento tocaremos com a nossa vida. Escrevemos cada linha do nosso refrão; este, se pode repetir quantas vezes acharmos necessário, caso ele venha nos fazer bem aos ouvidos. Se ele for bom ou muito ruim, as pessoas se lembrarão dele. Mas se a música fizer parte de uma banda de verão, poucos as ouvirão. Podemos gritar e cantar a nossa música ao mundo; ou nos calar e deixar o mundo cantar. Mas a vontade de cantar sempre estará presente, adormecida, ou, na insônia de cada dia; mas ela está ali, esperando a vibração das cordas vocais, prá então, o grito incansável ultrapassar as barreiras do som. [...]









            

-

Tic, tac, tic, tac, tic, tac... Ouça, ouça! O grande relógio no espaço continua a bater...

Pulsando para tirar a poeira



Acredito que a história tenha se originado no alfa de tudo.
Acredito que mesmo quando não existiam seres pensantes [de nosso conhecimento hoje], a vontade de se entender o ontem, e se saber o amanhã, já estava presente. A sede pela história estava a secar as mais confusas gargantas do espaço.
Por que a história tem de ir além da disciplina. O historiador precisa ‘honrar’ o seu ofício de historiador [ofício ‘pensado’ por Bloch], sentir no mais íntimo de sua alma, tudo aquilo que as cinzas de determinada época deixaram. O historiador precisa deixar o coração bater a mil, movimentar a adrenalina do seu corpo ao se deparar com um avião da Primeira Guerra Mundial, sentir [ou pelo menos tentar sentir] o que o piloto da época sentira ao se ver por entre as nuvens. O historiador tem que voar junto! Mover cada gota de suor de seu rosto por aquilo que mais deve lhe fascinar [como me fascina]: a HISTÓRIA.
O historiador percorre os mais sãos e insanos caminhos. Do passado para o presente e, inversamente,  do presente para o passado, afinal é preciso tocar o relógio do mundo. Porque o maravilhoso acontece quando os ponteiros param, e tudo aquilo: pedras, sorrisos, caminhos, fogo e água, se prendem no tempo. E tudo está preso no tempo. O historiador precisa escancarar os ponteiros, fazê-los girar no anti-horário, tornar a girar no horário, e tornar a fazer isso quantas vezes lhe for necessário para então encontrar o néctar tão doce que se espera. Afinal, nossa colmeia precisa armazenar mel; precisamos adocicar ainda mais a vida. É preciso estar atento a cada roer de unhas. Atento ás pequenas gotas de chuva que caem sobre nosso rosto, mas consciente de que as mesmas gotas podem lhe molhar e constipar.
O que torna a história tão magnífica [aos meus olhos], é o todo que ela abrange. Está presente em todos os campos científicos e artísticos. Move de alguma forma todas as áreas específicas que nos impulsionam enquanto sociedade, para além... Ela nos faz ter sentido [mesmo que este, possa parecer não existir]. Precisamos de uma história; real ou imaginária, mas precisamos. [...]

Na pupíla do coração

E dentro da imensidão escura, no interminável verde das matas, eu vi teus olhos; e mesmo que não quisesse ver, mesmo que eu esperasse a ilusão, a luz estava bem em minha frente; tal como as gotas de orvalho que pairavam sobre teu rosto naquela noite gélida. Noite na qual eu podia sentir o teu coração batendo em minhas mãos; pulsando intensamente, quente como o sol de verão e todo o suor que me escorre quando ando ao teu lado colhendo as flores que planto na minha alma, esperando o dia, no qual na sombra daquela linda árvore no Peru, eu lhe entregue os meus olhos.

Correndo sem pá-rar

O quê acontece com o ser humano, que muda de uma hora para outra, perde e ganha velhos e novos sentidos; sai do lugar continuando no mesmo lugar, ou fica no mesmo lugar, parecendo estar andando; como se tudo e nada se movessem bem a frente do nosso nariz [e realmente se move] e não fazemos nada?! Por quê damos a cara prá bater, e depois nos escondemos? Ficamos com medo, ou vamos além em todos os extremos? Apesar das contradições, o vazio parece insistir em continuar aqui dentro, como uma ferida, como uma pedra no sapato... Como completamos esse vazio [se é que ele pode ser completado]?
É fácil desejar ir adiante, difícil é ter força para caminhar, para aceitar as nossas escolhas; para admitir que erramos, ou que acertamos; para admitir que não sabemos lidar com a situação na qual nos encontramos.
São as nossas escolhas que mantém a roldana da nossa vida funcionando, ou não (não deixe que sejam as escolhas alheias), nossas alegrias e tristezas são escolhas nossas! Somos responsáveis por todos os grãos de feijão no nosso ‘saco’ de vida, esta que esta aqui, adormecida ou em toda à velocidade.
 A insegurança aparece às vezes, e nos faz ter mais medo ainda; ou nos faz ir mais além! Porque o simples fato de dizer que não temos medo, nos faz ter mais medo ainda (? contradição; sempre há contradição quando se trata de sentir). Quando dizemos que não temos medo, estamos alegando que enfrentamos tudo e todos, porque o medo de ficar parado é ainda pior do que o medo de levar um balaço na cabeça.
O que sustenta o amor pode ser o medo da solidão, tanto quanto a solidão pode ser o medo de se ter alguém por perto. Todas as coisas se interligam, como nossos neurônios levando informação ao nosso cérebro, dizendo em lembranças as coisas erradas que fizemos, e que mesmo assim, mesmo havendo consciência, continuamos a mover nossos braços e pernas; como podemos saber o que estamos fazendo? A vida não é escovar os dentes; o escovar os dentes da vida, é tentar limpar todo o ‘azedo’ que ingerimos, de todos aqueles que estão ou não ao nosso lado; e nos dias em que nos encontramos, dificilmente encontramos alguém prá ter ao nosso lado, e, quando encontramos, não nos damos conta, ou temos medo de nos dar conta... 
É como olhar pela janela, ver todas aquelas estrelas brilhando na nossa direção, dizendo que elas estão ali, nos iluminando, e que nós devemos nos fazer por iluminados [...]

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Qual é mesmo o sentido?

Passei a me perguntar, depois de certo tempo observando o ser humano, vendo- cheirando- sentindo na pele- mastigando intensamente a Vida, que ‘passamos’ nossos dias, tentando encontrar um sentido para nossa Vida. Quando crianças, sonhamos, brincamos e imaginamos nossa vida; transformamos cada peça de nosso jogo real, sentimos intensamente o que é cortar o dedo, temos medo do escuro, apertamos fortemente as mãos de nossos pais para atravessar a rua. Vamos para a escola, e, na maioria das vezes, não entendemos o porquê daquilo que estamos aprendendo. A vida não seria mais fácil se pudéssemos estar todo o tempo jogando futebol com nossos vizinhos? Trocando vestidinhos de boneca, correndo no meio da meléca, jogando o próprio corpo entre as gotas de chuva? Quando se é criança, até pegar um resfriado é bom! Mas mesmo quando crianças, com a nossa imaginação, ficamos a sonhar com o que vamos ser quando crescer, e criamos as mais singulares expectativas para nossa vida. Tentamos encontrar nos nossos sonhos qual será a melhor forma de viver. O que eu quero ser quando eu crescer? Grande parte dos adultos, quando crianças, escreveram uma redação na escola, com este tema. Eu fico a me perguntar, qual a porcentagem dessas pessoas que escreveram sobre o que queriam ser, hoje, realmente são aquilo que queriam? O ser humano se molda através dos dias em que passa sobre a Terra. Admiro intensamente o ser humano, me fascina estar aqui, me fascina tudo que posso ou não fazer, tudo que vejo e sonho, tudo que como, que mastigo intensamente com meus dentes de mamífero, todos os odores que passam pelas minhas fossas nasais, tudo que eu sinto intensamente; e eu, eu sinto tudo intensamente! Preciso estar aqui ou ali, e sentir o arrepio na pele, para de certa forma poder ou não tirar uma conclusão [se é que realmente podemos] sobre determinada ‘coisa’. Então, como precisamos de um sentido para nossos atos [perdi as contas das vezes em que desejei deitar e rolar, e por algum motivo não o fiz, (isso contradiz-me, pois digo que sinto tudo intensamente)]; tentarei registrar aqui, o motivo pelo qual me faz estar respirando neste momento.
Não sei ao certo quando começou, se foi na pequena sala de estar quando tinha 3 anos, e minha mãe com pequenos recortes em papelão, com alguns pequenos traços coloridos, [que ela mesma fizera] letras que formavam um alfabeto, que dia-a-dia ela me mostrava, e me fazia imaginar todos aqueles pontos de luz formando palavras; ou quando na escola escrevia no quadro, ou quando fui apresentada a leitura; ou nas tantas redações que escrevia, nas letras que admirava; ou se foi na minha preguiça de ler o que me recomendavam, porque sempre pensava ‘por que não posso escrever o que tenho na minha cabeça? Por que tenho que ler isto ou aquilo para poder escrever?’ [confesso, que mesmo agora, esta pergunta me aflige os pensamentos;], enfim, não pretendo [nem quero] determinar exatamente aonde meu amor pelas palavras começou; o simples fato de existir e me fazer ficar horas em êxtase são mais que suficiente para começar aquilo que estaria adormecido há muitos séculos na minha cabeça. Meus dezoito anos pisando em solo Terreno me tornaram o que hoje sou, o que posso vir a ser amanhã e, o que eu fui ontem, de certa forma, não há como definir. Sei que estou aqui, agora, Vi.ven.do.
E por isso escrevo; porque as palavras são Vida, pulsam, vivem no meu respirar. Deslizam pela minha pele, que sente. E eu sinto tudo intensamente. Prefiro assim, estar ali na hora em que a bala atravessa meus pulmões, tenho de morrer por mim mesma; digo isso, porque acredito que independente do ideal que se siga, não se morre por ele, no fundo se morre pelo desejo que se teve de estar, de ser aquele ideal. E o ideal é Ser, o que se É. É viver. Tal como as palavras. As palavras Vivem.