quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dentro-fora do quarto

Já olhou o seu quarto de fora? Quer dizer, já deixou a luz acessa, trancou a porta e ficou do lado de fora experimentando as sensações que isso lhe causava?
Sentir-se do lado de fora de si mesmo. Como se a total inutilidade que se é, se refletisse atrás da porta, onde você não vê. Como se outra pessoa estivesse ali, no seu lugar, no lugar que foi seu, e que não é mais. Pelo menos por alguns instantes não é. Tudo que assombra o seu quarto sem você é o vazio de ser você.
Abra a porta, entre. Não seja impetuoso. Olhe prá você enquanto atravessa esse portal, seja idiossincrático com as coisas que formam o seu quarto, formam parte de você. Tranque a porta, desligue a luz e fique no seu vazio... E não vá pensar em cortar os pulsos, isso era moda quando uma desgraça se seguia de outra desgraça, trazendo loucamente a morte no ar. Hoje já estamos conformados com desgraças. Pouca gente vai realmente se importar com você depois que passarem dois anos que você cortou os pulsos. Então, nem pense nisso. Vá ler um livro...
E não pense mais nesse vazio que você é. No vazio que eu sou. No vazio que todo mundo é. Isso te enlouqueceria! Leia um livro e faça alguma coisa de útil... Abandone a onicofagia, roer as unhas sujas não é vantagem... Nem pintá-las com esmalte cintilante. Roa as unhas de outra pessoa, deixe as suas bonitas. É o que quase todo mundo faz. Não faça o que todo mundo faz... Faça amor com você mesmo, e pare de roer unhas. E pare de ler isso tudo também, vá escrever alguma coisa. Nada vai mudar, nada vai mudar, nada vai mudar. Os anjos cantam nos céus mostrando o caminho a seguir. E eu insisto em andar de encontro ao meio-fio...

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