
Acontece que era louca, e nada poderia fazer contra isso.
Tudo ao seu redor se modificava com um toque invisível que me corroia de
ansiedade os ossos. Queria saber o que ela estava vendo, ouvindo, cheirando,
sentindo em cada partícula de vida que ela cuidadosamente, e, ás vezes,
desesperadamente, fazia tremer no seu respirar. Queria respirá-la por completo!
Tê-la toda em mim, inteiramente intensa e na sua forma mais pura. Queria sua
essência, sua alma. Tudo que ela tocava. Sentia como se ela fosse uma extensão
das estrelas, iluminando cada passo na chuva, ateando ainda mais o fogo nos
dias de sol. Não há nada de mais magnífico do que os seus passos; com uma certa
timidez que instigava, fazia aqueles olhos doces de menina ainda mais doces.
Era como se as percepções de tempo nela fossem totalmente adversas, contrárias.
Tudo soava antítese. E eu queria saber das suas teses, dos escritos e desenhos;
dos sonhos e tormentos; dos beijos e lampejos nas noites de solidão. Ela andava
e eu a olhava, de longe. Tomava meu café e esperava que o girassol tornasse a
olhar para mim, para que ela passasse, totalmente desprovida de liberdade
diante dos meus olhos, porque eu de certa forma a aprisionava; era como se
fosse minha, sem saber. Como se seus desejos e atos fossem o meu pensar agindo,
numa forma que eu jamais conseguiria viver. Mas ela conseguia. De alguma forma
ela conseguia. E eu, não sabia se isso me incomodava ou me fazia sorrir. Queria
ser eu. Lá. Mas, e não sou?
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Fração de segundos...