sábado, 24 de julho de 2010

Glândulas na mão

Quando os degraus do ônibus terminavam e os olhos procuravam um lugar vago para se sentar, as pernas já sabiam que não descansariam. No entanto, a viagem era curta, não haveria problema em ficar em pé, pelo contrário: ficar em pé foi o passo dado para perceber as notáveis conseqüências que o aglomero de pessoas causava, entre o som que os pneus soluçavam ao entrar em contato com as pequenas pedras soltas no asfalto.
Palavras misturadas ao suor que escorria na testa reluzente, saiam da boca que mastigava um típico salgadinho que se compra para viagens, e que havia contaminado todo o ônibus com um cheiro de queijo, que aos poucos, trazia o vômito no ar. Contudo, o vento que entrava pelo pequeno espaço da janela aberta, com metade da cabeça de uma criança para fora, que com olhos ora fechados, ora abertos, transpareciam o gosto de sentir o vento batendo na cara; assim, o vento que entrava pelas mais ‘invisíveis’ frestas levava para a estrada o cheiro que trazia a tona o vômito, e o deixava se perder entre as árvores e plantações que enfeitavam um lado e outro da rota que o ônibus fazia.
O vento e suas saudáveis provocações. Vomite! Os olhos do senhor na beira dos 60 diziam para a morena de 27 que, contando um compasso de dois tempos, colocava a mão entre nariz e boca. Eu observava e era observada.
Dois passos á direita alguém com óculos escuros, roia as unhas e olhava na minha direção. Parecia que sabia o que procurava e eu temia que estivesse , de fato, procurando. Desviei a sinestesia e me concentrei em sair depressa do ônibus e correr para o mais longe que pudera. Esperei. Lentamente movi os passos, ele não imaginava que eu sairia antes de onde seus pensamentos já haviam traçado. Saí, corri e me perdi no meio da multidão. O cara das unhas roídas? Deve estar morto, é o preço que se paga por missões inacabadas. Eu? Eu me aposentei, agora como as maçãs do pecado...

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