quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sem canto, ali.


O monstro costurava teus olhos e comia-te o coração. Fazia-te em mil pedaços e tu nada sentias. Ignorava, se quer ouvia. Que dirá veria. Teus olhos só filtravam teu andar, o som da rua passava despercebido entre teu nariz; que contentava-se com o dançar dos pêlos de outro alguém. O monstro lhe conduzia. E tu, na maior insensatez seguia...
Olhos costurados nada viam além da rotina. Teu coração palpitava longe de ti, mesmo assim pensava que o sentia. Tuas mãos mutiladas nada despiam, apenas carimbavam com a mesma tinta azul, que para ti cheiro algum tinha. Teus pés tortos procuravam sempre a direita; seguindo o mesmo caminho.
O mostro lhe devorava aos poucos e tu ainda prazer sentia. Unhas sujas de esmalte se enchiam, disfarçavam a agonia. A gravata enforcava os dias e teu sangue ainda assim corria. Beijos arrancavam-te as pernas e o sussurrar quase sempre te engolia.
Vinho nas quintas-feiras, traziam danças que o mostro oferecia. Olhos abertos a noite toda diziam que tu sofria. O mostro andava e cuspia, porque sabia que tu te entregarias. Ele te pegaste na quinta avenida, e tu marchaste sem ver clarear o dia... Na noite nada mais te surpreenderia.

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Fração de segundos...