segunda-feira, 14 de março de 2011

Depois do 1º Ato - Diálogo.


- Eu me arrependo... Você se arrepende?
- Eu? Hahaha... Eu não me arrependo.
- Quer dizer que se pudesse voltar atrás, o faria novamente?
- Não só o faria novamente se voltasse o tempo, como tenho vontade de fazê-lo novamente a qualquer instante. Faria agora...
- Teria coragem?
- Não percebe que não se trata mais de coragem, mas sim de vontade!
- Como podes ter vontade de fazê-lo mais uma vez? Eu não faria de novo, jamais. Estou com vergonha de mim mesmo por ter feito da primeira vez. Agora sinto medo...
- Eu sabia que tu falarias isso e que se arrependeria. Percebi que você tremia e estava disposto a desistir. Se tivesse que fazer sozinho, não tenho dúvidas que tu deixarias de fazer.
- Como eu poderia não estar com medo? Como eu não poderia pensar em desistir? É claro que pensei em desistir, e me arrependo de não ter desistido... Como eu pude fazer o que fiz?
- Fizemos! E já está feito! Precisávamos fazer.
- Precisávamos fazer? Precisávamos fazer porque nos deixamos convencer de que deveria ser feito.
- ‘Nos deixamos convencer’? Nós acreditamos no que fizemos! Acima de tudo acreditamos.
- Disse bem... Acreditamos! Mas, não tenho mais certeza se continuo acreditando...
- Vais jogar fora toda a nossa dedicação? Sabes bem quantas noites em claro passamos lendo, calculando, sonhando?
- Talvez estejamos errados...
- Errados? ... Me passe o isqueiro. [acende o cigarro] Não esqueça que foi você quem despertou minhas vontades.
- Não esqueço. Mas confesso que com o decorrer de todo o ‘plano’, eu deixe-me influenciar pelas tuas interpretações, e, de fato, tu me interpretastes mal algumas vezes. De modo que mudamos o rumo que eu um dia imaginei.
- Te interpretei mal?
- Sim, e...
- Calma, calma! Preste atenção no que você está dizendo! Não tente agora arranjar uma desculpa prá você se sentir mais aliviado. Fizemos isso juntos! Eu tenho tanta culpa quanto você! E o sentido de tudo que fizemos, resultaria em não sentir culpa alguma. Não percebe que está agindo contrariamente a tudo que seguimos desde a chuva de dezembro?
- Sim, mas... Como eu disse, talvez estejamos errados acerca de tudo que seguimos desde aquele dia. Talvez tenhamos feito algo muito errado, independente do que seguimos ou acreditamos.
- Não use mais o tempo passado! Seguimos e ainda acreditamos
- Eu não sei...
- Até quinze minutos atrás você seguia e acreditava! Não queira negar tudo agora!
- Acho que deixei de acreditar nisso tudo há muito tempo...
- E por que o fez então?
- Medo talvez.
­- Medo?
- Você sabe tanto quanto eu que isso vai muito além de eu e você.
- Sei. E você soube disso antes de mim. Não te esqueça que foi você quem provocou o entusiasmo em mim...
­- Quem está querendo colocar a culpa em alguém agora?
­- Eu não estou colocando a culpa em ninguém! Tu me mostrastes um direção e foi de minha vontade segui-la. E como eu lhe disse NÃO ME ARREPENDO!
­- Esse teu não se arrepender que me causa medo. Desconforto por imaginar os dias que virão... Tu me disseste que tem vontade de fazer mais uma vez...
- Mais uma, ou quantas vezes forem necessárias!
- Acho que não devemos continuar... E se deixamos rastros?
- Não deixamos rastro algum! Sabes bem disso. Trate de te acalmar!
- Como vou me acalmar? Eu vi todos os passos que ela dera... Pode ser que ela não tivesse escolha...
­- Ela tinha outras escolhas! Lembra quando me disse que todos temos escolhas, somos responsáveis pelos nossos caminhos...
- E o que nos dá o direito de interferir nas escolhas alheias, dizer se valem à pena ou não?
- Eu não acredito que estou ouvindo isso de ti! Vai queimar tudo o que lera?
- Não sei, não sei. Eu estou confuso agora, como jamais estivera.
- Isso são lágrimas?
- As mais tristes que um dia de mim saíram... Tu deverias me matar... Tu não, ela deveria!
- Acalma-te! Tenho certeza que se ela pudesse, te mataria. Por isso fizemos o que tinha de ser feito! Fizemos o que tinha de ser feito! Acalma-te companheiro, sabes que ainda temos muito o que fazer...


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