sábado, 2 de novembro de 2013

Ou-vir




“-Ouça o silêncio!”

Entre um acorde e outro reproduzido pelo grande e velho piano empoeirado, sobressaía a voz daquele também grande e velho, homem.

“-Ouça o silêncio!”

Tornava a repetir incansavelmente o avô à pequena menininha que, encantada com a vastidão de cores que entrelaçavam-se dançando acima do piano, e faziam-na sentir o suave gosto de pêssego correr pela boca enquanto apreciava com toda a serenidade e não menos entusiasmo, a mesma serenidade e entusiasmo refletidas no movimento das mãos do avô, que mais uma vez dizia:

“-Ouça o silêncio!”

E em um salto, como se descobrisse o segredo da própria existência, levanta-se curiosamente subindo no próprio banco, erguendo os pés como se quisesse tocar em algo – e quer. Assim, pequenina nas pontas dos pés, a pequena menina gira em torno de si mesma, sorri com o corpo todo feito uma bailarina, que agora, parecia unir-se com a imensidão de formas e cores que deliberadamente saiam dos acordes do avô e iam de encontro ao que alguns chamam, liberdade. E então, como se o maestro conduzisse o fim da melodia, o som vai passo a passo distanciando-se dos ouvidos, despede-se pelos olhos do avô: um novo silêncio acontece. O velho piano se cala e o velho e sábio homem volta a dizer:

“-Ouça o silêncio! Pois é nesse silêncio que você acabara de contemplar, que a arte se faz. É nesse silêncio que a obra carrega, que desperta os nossos sonhos, que nos traz um novo sentido aos sentidos, que nos permite criar, transformar... primeiro a nós mesmos... que a arte mais uma vez se faz. E sempre fará! Porque a arte minha netinha, a arte transforma o mundo!”

2 comentários:

  1. Muito bem, Luana..
    Boa escrita (:

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  2. Anônimo12/11/13

    Oi Luana, como estas? Tens face? O meu é Reinaldo Werner Filho ..

    Rei

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Fração de segundos...