“-Ouça o silêncio!”
Entre um acorde e outro
reproduzido pelo grande e velho piano empoeirado, sobressaía a voz daquele
também grande e velho, homem.
“-Ouça o silêncio!”
Tornava a repetir
incansavelmente o avô à pequena menininha que, encantada com a vastidão de
cores que entrelaçavam-se dançando acima do piano, e faziam-na sentir o suave
gosto de pêssego correr pela boca enquanto apreciava com toda a serenidade e
não menos entusiasmo, a mesma serenidade e entusiasmo refletidas no movimento
das mãos do avô, que mais uma vez dizia:
“-Ouça o silêncio!”
E em um salto, como se
descobrisse o segredo da própria existência, levanta-se curiosamente subindo no
próprio banco, erguendo os pés como se quisesse tocar em algo – e quer. Assim, pequenina
nas pontas dos pés, a pequena menina gira em torno de si mesma, sorri com o
corpo todo feito uma bailarina, que agora, parecia unir-se com a imensidão de
formas e cores que deliberadamente saiam dos acordes do avô e iam de encontro
ao que alguns chamam, liberdade. E então, como se o maestro conduzisse o fim da
melodia, o som vai passo a passo distanciando-se dos ouvidos, despede-se pelos
olhos do avô: um novo silêncio acontece. O velho piano se cala e o velho e
sábio homem volta a dizer:
“-Ouça o silêncio! Pois
é nesse silêncio que você acabara de contemplar, que a arte se faz. É nesse
silêncio que a obra carrega, que desperta os nossos sonhos, que nos traz um novo
sentido aos sentidos, que nos permite criar, transformar... primeiro a nós
mesmos... que a arte mais uma vez se faz. E sempre fará! Porque a arte minha
netinha, a arte transforma o mundo!”
Muito bem, Luana..
ResponderExcluirBoa escrita (:
Oi Luana, como estas? Tens face? O meu é Reinaldo Werner Filho ..
ResponderExcluirRei