Fazia frio e janeiro já estava
longe. Estava em outro ano que não era este em que a lembrança daquele janeiro
saltava entre meus olhos e escorria pela minha face feito neve derretendo para
dar espaço ao sol, rendendo-se ao seu calor e desfazendo-se de si mesma para
enfim recomeçar seu ciclo.
E com este pensamento sorrio
entre as lágrimas que engasgadas tentam mastigar o presente que vive em
lembranças de um passado que não tenho certeza se existiu.
E meus ossos contraiam-se a cada
passo entre as calçadas congeladas e os bordéis quentes, que não há dúvidas, eu
bem sei, só existem em Paris. [E] aí, nesse espaço tempo onde a solidão não
media distância para fazer-me cair ao chão, engolia as lágrimas que hoje chovem
rios nas rugas de minha face.
Então adormecia, congelava,
derretia.
Lembro-me dos chutes e de ser
arrastado junto com a fumaça. Do calor que embaçava a vidraça daquela janela
que sempre me foi negada, era intacta... Longe, Distante. Dois olhos brilhantes
no segundo andar sem me olhar.
Por isso feito Rimbaud eu
insistia em caminhar na vastidão do sonho imperfeito que minh’alma insiste em
alimentar e que ainda hoje castiga o meu respirar...
Até quando ei de hesitar?
Pergunto aos meus olhos, pois com
eles refletidos no espelho ainda me reconheço: carregam o que fui, mostram o
que sou e, fechados, esquecer-se-ão do que jamais serei...
Mas sempre saberão: sonhei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fração de segundos...