sábado, 2 de novembro de 2013

Rua, gelo e solidão



Fazia frio e janeiro já estava longe. Estava em outro ano que não era este em que a lembrança daquele janeiro saltava entre meus olhos e escorria pela minha face feito neve derretendo para dar espaço ao sol, rendendo-se ao seu calor e desfazendo-se de si mesma para enfim recomeçar seu ciclo.

E com este pensamento sorrio entre as lágrimas que engasgadas tentam mastigar o presente que vive em lembranças de um passado que não tenho certeza se existiu.

Mas sei, fazia frio.

E meus ossos contraiam-se a cada passo entre as calçadas congeladas e os bordéis quentes, que não há dúvidas, eu bem sei, só existem em Paris. [E] aí, nesse espaço tempo onde a solidão não media distância para fazer-me cair ao chão, engolia as lágrimas que hoje chovem rios nas rugas de minha face.

Então adormecia, congelava, derretia.

Lembro-me dos chutes e de ser arrastado junto com a fumaça. Do calor que embaçava a vidraça daquela janela que sempre me foi negada, era intacta... Longe, Distante. Dois olhos brilhantes no segundo andar sem me olhar.

Por isso feito Rimbaud eu insistia em caminhar na vastidão do sonho imperfeito que minh’alma insiste em alimentar e que ainda hoje castiga o meu respirar...

Até quando ei de hesitar?

Pergunto aos meus olhos, pois com eles refletidos no espelho ainda me reconheço: carregam o que fui, mostram o que sou e, fechados, esquecer-se-ão do que jamais serei...

Mas sempre saberão: sonhei.

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Fração de segundos...