sábado, 24 de abril de 2010

Descascar a pele

E depois de atravessar universos inúmeras vezes, no meio do caos que meus pensamentos se transformavam: todo aquele barulho que a mistura de sons fazia, trazendo cor para a fumaça, sem perceber, eu adormecia. Olhos abertos adormecidos. O caos continuava, e eu, por alguns minutos me afastava de toda aquela confusão, bagunça em meio a estrelas, ossos, rimas, explosão de perfumes. É tão bom estar no silêncio, no som da vida, da ausência de vida fútil. Longe de qualquer célula, músculo, olhos... Longe até mesmo das minhas mãos. Contemplar o silêncio da vida e num piscar de olhos, voltar para o caos.
A confusão que me cercava me enlouquecia. Ouvir, ouvir, sentir, sentir, fechar os olhos e ver, pegavam nas minhas mãos para que eu tocasse. Não se podia evitar. Eu estava ali. Tudo isso [que olhando agora, é pouco], me fez pensar em me atirar pela janela. Não a janela dos sonhos, com todas as balas coloridas e flores comestíveis gigantes. Mas a janela da minha casa, que dava em um chão de cimento tão cinza e frio, que doía andar sobre ele. Imagino o estrago que causaria à minha carne quando se encontrasse com o chão. Tudo não passou de imaginação. Começo a pensar que tudo não passa de imaginação. As minhas mãos deslizando entre um copo e outro; a saliva escorrendo no canto da boca. A face pigmentada de azul. Tudo imaginação. Como se eu tivesse ativado o poço da imaginação dentro de mim, e a todo segundo jogasse uma moedinha no meio da água densa e colorida, transformando tudo que eu desejara...
Então, eu simplesmente, deveria parar de alimentar o poço. Deixá-lo ali, para que esfriasse, evaporasse. Quanta ingenuidade de minha parte. Se não alimento o poço, não me alimento. Acabo ficando tão cinza quanto o chão que eu desprezava, nessa hora o chão tem mais vida do que eu. Eu choro. Lágrimas doces que escorem dos meus olhos. Eu choro na frente do espelho. Preciso ver-me em tristeza e pranto. Ver a amargura fixada nos meus olhos. A dor não vai embora quando se chora. Ela se acalma. Por vezes o estômago repulsa o que faço descer goela abaixo para continuar em pé. Vômito misturado á lágrimas na pia do banheiro. Ninguém vê, além de mim. Depois de algumas horas ali em vertigem; depois de longos combates circulando o caos, eu me despedaço. Desmaio atrás da porta. Acordo ainda em lágrimas e batalhas. Preciso ir para debaixo do chuveiro. A água me ajuda.
O caos não pára. O caos não pára. Se soubesse o que é viver no caos, pararia de alimentar teus medos bobos. Tua insegurança e falta de vida, pensando que andar durante um dia todo, justificasse o que você sente. Você nem sabe o que você sente, só pensa que sabe, mas não sabe. Deixe teus cabelos assim, como estão. Pegue na tua própria mão... Voe.
Cada vez que alguém abre as assas, o caos vai embora...
[...]

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fração de segundos...