sábado, 24 de abril de 2010

Procurar

Eu andava entre as flores de um vale, na França, caçando ratos que corriam ao me ver. Tocava minha gaita de boca, aquela que meu avô me deixou, quando ouvi o som do trem se aproximando. Sem pensar corri, corri com toda a força que eu tinha. Cheguei aos trilhos, agora era só esperar o momento exato para me jogar para dentro do trem. Assim o fiz. Mal caí dentro do trem e fui recebido com chutes que me jogavam de um lado para o outro. Parecia divertido para aquelas pobres pessoas me chutarem. Via seus sorrisos entre meio sua cara suja de lama e fedor que saía entre as orelhas e cabelos, que dirá o cheiro das roupas. Quando se cansaram [e parecia que jamais iriam se cansar], consegui ir para outro vagão do trem e me escondi atrás de umas caixas. O cheiro daqueles podres estava em mim, me embrulhou o estômago. Não conheço as cidades que passo, resolvo descer em uma que avistei uma linda donzela de peitos de fora. Pulei do trem e sai andando. Jogando todo meu charme entre uma rua e outra. Não precisei andar muito, logo uma gatinha ficou a me olhar, encantada com o lenço preto em meu pescoço, ela sabia o porquê daquele lenço. Não foi difícil e logo a possuí, virei as costas e saí. Ascendi meu cigarro e disse para ela que, poderia chamar de orgasmo aquilo que sentira, mas para mim era outra coisa. Andei pelos guetos quando anoiteceu. Não encontrei o que procurava, mas encontrei briga. Saí todo arrebentado, ás vezes esqueço que não sou mais tão jovem. Mesmo arrebentado, alguns me respeitavam. Respeitavam na verdade o lenço preto no meu pescoço. Sabiam o que eu estava procurando.
Fiquei alguns dias naquela cidade, sem nada encontrar. Vi o sol nascer, bebendo água de um riacho; disse para mim mesmo: ‘é nessa noite que eu o encontro, ou que o vento me leve no caminho certo.’ Minhas feridas curavam-se sozinhas. Como se meu corpo quisesse que eu continuasse a busca. Assim fiz. Observado cada pedra que se movimentava na rua, me deparo com um bar. Algumas prostitutas do lado de fora, sendo penetradas ali mesmo, na parede do lado do bar, me fez lembrar aquela gatinha de uns dias atrás; na minha mãe dizendo que eu deveria me acalmar, casar; e na minha felicidade de estar andando sozinho. Distraído nesses pensamentos, vi atrás do balcão... ali estava ele. O sangue ferveu nas minhas veias, atravessei a porta de entrada, e sem me desviar fui na sua direção. Podem chamar de covardia, mas o ataquei pelas costas. Nossa briga chamou atenção, depois de alguns minutos de briga, copos quebrados pelo chão, alguém atira uma faca, que supostamente deveria ter me acertado, mas acertou a cabeça daquele que eu queria matar, mas que agora estava morto. Seu sangue ficou na minha cara. Alguém então pega uma arma e começa a atirar em mim, eu corro de um lado para o outro até que consigo sair do bar. Estou ferido, mas nenhuma bala me atinge. Esta noite acaba com uma briga duas quadras depois do bar, eu bato e apanho, acabo por ficar desmaiado, vertendo sangue... Satisfeito. Agora só faltavam mais seis para que eu pudesse tirar o lenço preto do meu pescoço...
‘Espera aí, como é que você está vivo aqui, agora, depois de tudo isso?’ Interrompe o cão, indignado com tudo que ouvira.
Bem, eu sou um gato. Tenho sete vidas, não se lembra?

3 comentários:

  1. se for postar minha biografia peça permissão autoral, amor.

    http://mentecaptocotidiano.blogspot.com
    http://sertaosangrento.blogspot.com

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  2. postar tua biografia? escrevi esse texto ao som de andando e andando em copacabada do Oswaldo Montenegro. nada tem haver com tua 'biografia'.

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Fração de segundos...