domingo, 11 de abril de 2010

Dos olhos, sentir.

Eu rabiscava meus próprios olhos de vermelho, prá esconder o branco puro que cercava a verdadeira cor dos meus olhos. Cor que variava conforme meu humor. Variava conforme o clima que se fazia lá fora, além da porta do meu quarto; também com o clima que fazia aqui dentro: dentro do meu próprio eu, por vezes escondido.
Algumas vezes, a ausência de cor que meus olhos refletiam, era tão forte quanto a luz da Lua. Outras vezes, a soma de todas as cores trazia a escuridão no meu olhar, como olhos famintos de uma coruja.
Mas eu não me importava com o que os meus olhos transpareceriam. Sabia que independente da cor que ele estivesse, estaria transmitindo exatamente o que sentira naquele momento. A sinceridade que meus olhos mostravam era intensa.
Olhava fixamente para tudo que almejava. Olhava fixamente para tudo que repugnava. Assim, conseguia distinguir muito bem o que meus ossos desejavam ou não em cada instante da minha pequena vida. Pequena grande vida.
Eu tinha olhos grandes, tinha olhos pequenos... Conseguia ver muito bem além do horizonte. Sabia o que existia atrás das paredes dos prédios e do coração. Conseguia ver cada víscera daqueles que passavam no meu caminho, ou, dos caminhos dos outros em que eu, por um motivo ou outro acabara passando.
Eu era olhos. Os olhos era eu. Juntos éramos três em um só. Dividindo o mesmo espaço. Procurando acordo nos pensamentos. Movimentando a pálpebra da vida. Pálpebra colorida, que eu mesmo pintara com as cores do arco-íris.
Os meus olhos me mostravam onde meus pés deveriam ir. Os meus olhos sorriam tanto quanto minha boca, naqueles imensos momentos intensos de felicidade. Os meus olhos brilhavam tanto quanto o Sol, quando viam outros olhos que brilhavam ao me olhar. Também, meus olhos derramavam as mais tristes lágrimas. Salgadas. Por hora amargas, que acabavam se misturando à minha face e às minhas mãos que as enxugavam. Ou ainda, simplesmente se misturavam à terra... Pois, tantas foram as vezes em que as deixei cair até o chão, para que ele ás sugasse e as transformasse em raízes de flores amarelas que mais tarde meus olhos veriam e colheriam. Como em um ciclo.
Os meus olhos me diziam a hora certa de atravessar a rua. Diziam-me a hora certa de parar ou de ir além. Meus olhos traçavam o limite que eu podia tocar. Mesmo que esse limite não alcançasse minha vista.
Meus olhos me permitiam tudo e nada.
Algumas vezes precisava os fechar, adormecer para que do outro lado eles pudessem continuar a ver.
Os meus olhos não se cansavam! Cheguei até a pensar em arrancá-los para assim não ver mais nada! Nem a doçura dos bolos de chocolate das tardes de domingo, nem a amargura da fome longe de casa. Não ver... Porém, sabia que mesmo que os arrancasse, continuaria vendo tudo que bem desejara, e até o que não queria ver. Não precisamos de olhos para ver tudo o que está bem a nossa frente. Nem o que está longe. Os olhos, só são uma pequena, entretanto bonita, porta para tudo o que corre nas veias do céu e do oceano.
Os meus olhos sentiam sede, fome, náuseas. Como se possuíssem vida própria. E possuíam. Certo dia, consegui vê-los andando. Caminhando para longe e me chamando para que os acompanhassem. E eu fui... Não podia deixar meus olhos vagando sozinhos pelas estradas do mundo e submundo que nos cerca. Sabia que queriam me mostrar alguma coisa que eu ainda não havia percebido, encontrado, deslumbrado...
... Meus pensamentos estavam certos. Eles só não queriam me mostrar alguma coisa, como queriam ser dessa outra ‘coisa’. [...]
Os meus olhos me mostraram, que o amor, muito mais do que troca de corações, é a troca de olhos. Entregar seus próprios olhos para alguém e receber os olhos desse outro alguém. Numa troca. Na reciprocidade completa! Ver como este outro alguém vê, para assim, partilhar da nobreza que é viver. Como a pureza que o Sol resplandece refletindo na Lua, iluminando a noite. Permitir que um alguém veja com teus olhos, sinta com teus olhos, tudo que você até então sentiu, viu, viveu. Compartilhar o que realmente se é. Aceitar e ser aceito...
Os olhos mostram a essência do puro amor. Onde rabisco algum esconde a pureza do olhar...


Um comentário:

  1. Anônimo12/4/10

    quando você não está de óculos eu vejo que seus olhos tem um tom verde amarelado muito bonito! e o que mais que eu vejo?
    até hoje nao sei
    voce é uma incógnita !?

    te adoro pequena!

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Fração de segundos...