sábado, 24 de abril de 2010

Meio Fio

Eu vejo a vida afogando pessoas a todo instante. Inundando a sua alma com ondas frias e salgadas. Ensopando seus corpos, consumindo seus dias. É tão fácil, simples, encontrar e perder pessoas no mesmo instante, quando não se está na mesma ‘conexão’. É tão fácil encontrar pessoas que não te compreendam, pelo simples fato de não compreenderem elas mesmas. Na verdade, acredito que quase todas as pessoas do mundo não se entendem, estão em constante conflito. Buscam, caminham... Sempre naquela linha que todos criamos em nossa cabeça, que nos prende por tanto tempo. Muitos não se prendem dessa linha, afinal, ela está tão bem traçada na suas cabeças, que acabaram tornando-se parte de cada indivíduo, estes que acabam por nem se dar conta da sua existência. Outros, porém, a cortam e acabam na ilusão de não saber o que fazer. Não sabem o que fazer, nem tentam algo novo a se fazer. Por fim, se acomodam. São poucos os que cortam a linha, e conseguem se manter em pé. Encontrar o equilíbrio para se manter em pé, mesmo não existindo corda para andar. Nem vinho para beber. Afinal, as coisas acabam sumindo, quando a corda é cortada. É como dar um passo para a inexistência total. Um segundo e está feito. Ou você faz com que seus pés dêem o passo ‘certo’, ou, cai e fica a mercê, esperando que alguém te olhe com pena para te ajudar a levantar, porque a essa altura, humanos não levantam mais sozinhos. É uma pena dizer isso, mas não levantam. Ficam ali, estirados no chão, às vezes até sorrindo, mesmo levando cuspes e ponta-pés. São tão insanos que acham graça na sua total invisibilidade no meio da rua. Iludem-se na cor dos carros que passam; nas pernas da moça que compra sapatos; na cachaça do bar; nas moedas que lhes são atiradas junto com uma carteira de trabalho que mostra o tamanho da sua dignidade. O tamanho da sua capacidade. [não seria, a falta dela?]
Submissos á tudo, porque são submissos á eles mesmos. Não sabem onde vão, só sabem que estão indo. Matam seus monstros e anjos. Matam-se a si mesmos... Sustentam seus monstros e anjos, não sustentam a si mesmos.
[...]
Mas alguns sorrisos são sinceros. Um dia encontrei um par de mãos, talvez as mais bonitas que vira até hoje. Nem tudo está perdido... Ainda, há ainda no que acreditar.
Aqueles que cortam a corda e conseguem continuar a andar, fazem todo o espaço girar.
[...]

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